Análise

'Brasil não voltará a ter superávit tão cedo', diz economista

A economista também destacou o aumento do déficit da Previdência, que passou de cerca de R$ 100 bi há dez anos para mais de R$ 300 bi atualmente

Banco Central Brasil
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Brasil não conseguirá alcançar um superávit primário em breve, devido às crescentes demandas por aumento dos gastos públicos e às restrições para encontrar novas fontes de receita, disse Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

“Há dificuldade de ter mais receitas e de controlar gastos. Os problemas são complexos do ponto da economia política, o que aumenta muito os gastos das receitas recorrentes, e são gastos relacionados à transferência de renda”, afirmou Silvia Matos.

A economista também destacou o aumento do déficit da Previdência, que passou de cerca de R$ 100 bilhões há dez anos para mais de R$ 300 bilhões atualmente.

As declarações ocorreram durante o 2.º Seminário de Análise Conjuntural, organizado pelo Ibre-FGV e pelo Estadão/Broadcast, que aconteceu na quinta-feira (6).

Banco Central do Brasil

A política monetária e o combate à inflação também foram discutidos no evento. José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre-FGV, afirmou que o combate à inflação não pode recair exclusivamente sobre o Banco Central, destacando as dificuldades que as incertezas fiscais impõem à condução da política monetária.

“Os resultados seriam muito melhores se a política fiscal tivesse rumos diferentes dos que tem tomado”, afirmou Senna.

Segundo José Júlio Senna, o poder do Banco Central de controlar o recente aumento das expectativas de inflação está limitado.

Isso se deve, em primeiro lugar, à política de gastos crescentes do governo, e, em segundo lugar, às incertezas quanto à nova composição da diretoria do BC, já que o presidente, Roberto Campos Neto, deixará o cargo em dezembro.

“Não sabemos para que lado vai e isso afeta o comportamento esperado de preços à frente.” Diante desse cenário, acrescentou Senna, é correto o BC interromper o atual ciclo de baixa dos juros.

O economista Armando Castelar afirmou que a transição de comando do Banco Central deve ser conduzida com cuidado.

“Está se colocando uma situação complicada na qual, para ser indicado (à presidência do BC), o cidadão tem de coadunar com a ideia de que o juro será derrubado”, disse.