“Maior inflação, maior taxa de juros, menos previsibilidade para investimentos de longo prazo e geração constante e sustentada de emprego e renda. Esse é o ciclo vicioso que vivemos atualmente”, declarou o especialista em gestão de ativos imobiliários da Davila Finance, Carlos Malagoni, sobre o cenário atual do Brasil.
A afirmação do especialista diz respeito à meta fiscal no Brasil, que está sendo bastante discutida no cenário nacional. Na perspectiva do especialista, são observados cada vez mais “movimentos heterodoxos do governo para tentar, a qualquer custo, fazer parecer que entregou a meta”.
“O atual governo tem prometido e não tem cumprido as promessas no que tange à meta fiscal”, afirmou Malagoni.
Recentemente, um comunicado do BC (Banco Central) despertou um alerta. A autarquia pontou que o rombo nas contas do governo é R$ 40 bilhões superior ao resultado divulgado pelo Ministério da Fazenda. O anúncio foi realizado na última segunda-feira (16).
Além disso, antes mesmo do pronunciamento do BC, no início de setembro, o ex-secretário do Tesouro Nacional e head de macroeconomia do Asa, Jefferson Bittencourt, expôs, em entrevista ao “InfoMoney”, preocupações quanto ao posicionamento do governo.
“É algo estranho porque é muito explícito. Você tem um programa chamado Auxílio-Gás, e uma parte dele é paga dentro do orçamento, e outra parte, fora. Isso está causando muito incômodo porque tira a credibilidade da busca do governo pelo ajuste fiscal”, comentou.
O governo prevê um repasse direto de recursos ligados ao pré-sal para a Caixa Econômica Federal, que repassará ao programa Auxílio-Gás. O desembolso superaria os atuais R$ 3,4 bilhões, chegando a aproximadamente R$ 5 bilhões em 2025, e a R$ 13,6 bilhões em 2026.
Essas contradições minam a ancoragem das expectativas que influenciam diretamente as perspectivas de crescimento e inflação.
Mesmo com cenário dúbio, Brasil atrai atenção para investimentos
“O Brasil continua atraindo atenção do mundo para investimentos, apesar da mudança recente na condução da economia”, pontuou Carlos Malagoni.
Grande parte desse interesse se sustenta pelas oportunidades que o país oferece. O Brasil possui um mercado consumidor enorme, “além de dominância geográfica na América Latina (maior economia) e um importante mercado para produção de energia limpa, o que abre espaço para planos de investimento de longo prazo na geração, transmissão e distribuição de energia”, ressaltou Malagoni.
Contudo, vale lembrar as recentes movimentações dos formuladores de política monetária no Brasil. Na última quarta-feira (18), o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC divulgou sua decisão de aumentar a Selic. Assim, a taxa básica de juros nacional foi elevada em 0,25 p.p. (ponto percentual), ficando em 10,75% ao ano.
“Com o aumento da taxa de câmbio e a desaceleração da queda da taxa de juros, o investidor estrangeiro fica muito mais cauteloso em relação ao Brasil e, consequentemente, a entrada de dinheiro no nosso país tende a cair”, ponderou a economista Rica Mello.
No final deste ano, a previsão do mercado para o dólar era uma cotação de R$ 5,00, mas atualmente, a moeda norte-americana está em cerca de R$ 5,60.