Sistema Financeiro Internacional

Brics Pay estreia em setembro: ameaça ao dólar dos EUA?

A solução vai reunir o sistema de pagamento SBP da Rússia, usado por mais de 200 instituições

Foto: Ricardo Henrique Stuckert
Foto: Ricardo Henrique Stuckert

Desenvolvida em conjunto pelos membros do BRICS, a plataforma Brics Pay será lançada em setembro com a promessa de reduzir a dependência do dólar no comércio internacional. O sistema é baseado em um modelo descentralizado de mensagens fronteiriças (DCMS), criado pela Universidade de São Petersburgo.

Além do pix, a solução vai reunir o sistema de pagamento SBP da Rússia, usado por mais de 200 instituições e que realiza transferências a partir de números de telefone. 

A expectativa é que a plataforma fortaleça o comércio entre os países do bloco e ofereça uma alternativa ao sistema financeiro dominado pelo dólar.

Redução da dependência do dólar

Para o economista Adenauer Rockenmeyer, delegado do Corecon-SP, o objetivo central do Brics Pay é “facilitar transações diretas com moedas locais entre os países do bloco, eliminando a necessidade de conversão para o dólar e reduzindo custos e taxas”. 

Isso, segundo ele, diminuiria a exposição do Brasil às oscilações e às decisões de política monetária dos EUA.

O novo sistema também deve se conectar ao Pix, mas de forma complementar. “Ele foi inspirado na economia brasileira e permitirá que cidadãos usem o Pix fora do país, ao mesmo tempo em que reforça as transações comerciais dentro do bloco”, explica Rockenmeyer.

Na visão do economista, a iniciativa representa um desafio direto à hegemonia do dólar. 

“O Brics Pay opera com uma infraestrutura independente do sistema SWIFT, utilizando tecnologia descentralizada, o que dificulta o controle e a aplicação de sanções. Cada transação fora do sistema tradicional reduz a influência do dólar no comércio internacional”, afirma.

Riscos de retaliação dos EUA

A motivação geopolítica também é evidente. Segundo Rockenmeyer, países como Brasil e China enxergam no Brics Pay uma estratégia para ganhar autonomia e resiliência frente a pressões externas. Porém, os riscos são claros:

“Os EUA veem a desdolarização como uma perda de influência global e já sinalizaram possíveis retaliações, como a imposição de tarifas a países que adotarem o sistema alternativo”.

No campo técnico, a implementação exigirá harmonização de legislações, adequações fiscais e forte segurança cibernética. “

A proteção contra ataques será crucial, especialmente no contexto geopolítico atual”, alerta o economista.

Para o Brasil, os potenciais ganhos incluem um Pix mais robusto, redução de custos para exportadores e importadores, estímulo ao turismo e fortalecimento da posição diplomática.

Mas os desafios internos não são menores: a dependência de insumos dolarizados, a polarização política e a burocracia regulatória podem limitar os benefícios.

Externamente, as maiores ameaças são as possíveis retaliações dos EUA a instabilidade geopolítica e os riscos de segurança digital.

“O Brics Pay traz vantagens e desvantagens, mas sinaliza um movimento concreto dos países emergentes em busca de maior autonomia financeira”, resume Rockenmeyer.