Análise

Caged: economia aquece, mas não o suficiente para pulverizar ameaças

Especialistas consultados pelo BP Money relatam as inquietações do mercado quanto à inflação, consumo e taxas de juros após Caged

Foto: Unsplash
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Os números do Novo Caged para abril mostraram, novamente, que a economia está aquecida, porém os níveis de desaceleração levantam incertezas. Sendo assim, especialistas consultados pelo BP Money relatam as inquietações do mercado quanto à inflação, consumo e taxas de juros

“A economia pode ainda estar aquecida, mas a desaceleração no ritmo de criação de empregos pode indicar cautela entre os empregadores devido a incertezas econômicas ou a proximidade de uma possível estabilização após um período de crescimento rápido”, avaliou Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital.

Em abril, o Novo Caged reportou 240.033 mil novos postos de trabalho formal, apesar de ser maior que as expectativas, o número foi menor que o registrado em março (244,7 mil postos).

Conforme explicação de Moura, a desaceleração na criação de empregos pode afetar o consumo, pelo menor poder de compra das famílias, bem como a produção, com as empresas tendo de se ajustar às expectativas moderadas.

Já para inflação, o reflexo seria contrário. “Um crescimento mais lento no emprego pode aliviar pressões inflacionárias, pois a demanda agregada pode crescer a um ritmo mais contido”, disse.

O resultado do Novo Caged nos primeiros 4 meses deste ano mostrou um saldo 33,4% maior na comparação anual para a atividade econômica doméstica, com cerca de 958,4 mil novos postos de trabalho.

“Para o restante do ano, a expectativa é de manutenção do ritmo de crescimento do emprego celetista, na margem livre de efeitos sazonais”, afirmou Lucas Assis, economista e analista da Tendências Consultoria. 

Segundo ele, o crescimento deve ter mais contribuição dos componentes cíclicos da economia, intensivos em trabalho, apesar da perda de fôlego da atividade doméstica.

Desaceleração do Caged sustenta receio com política do BC

Um ponto ao qual o mercado segue bastante atento é à possibilidade do BC (Banco Central) reduzir os cortes na Selic (taxa básica de juros) até o final deste ano. Nesse contexto, os números do Caged podem ser adicionados às preocupações.

“A criação de empregos, ainda que desacelerada, continua robusta, o que pode sugerir que a economia está operando próximo de sua capacidade total. Isso pode manter ou aumentar as pressões inflacionárias, dificultando a justificativa para cortes de juros”, afirmou Moura. 

Os principais impulsos do Caged foram os setores de serviços, especialmente atividades de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais, ressaltou Lucas Assis.

Ao total foram 138,3 mil novos postos criados em serviços. Logo após veio a Indústria (+36,0 mil), principalmente na Indústria de Transformação (+31,7 mil); Construção (+31,9 mil); Comércio (+27,3 mil) e Agropecuária (+6,6 mil).

Contudo, tais resultados do setor de serviços sofrem ameaças vindas de frentes diversas, como a política econômica, cujas mudanças podem reduzir a demanda. Bem como as incertezas políticas, que mexem com a confiança dos consumidores e empresários. 

Além disso, Moura trouxe a perspectiva de que o quadro externo, com o crescimento global, taxas de juros altas e conflitos internacionais, compõem a lista de ameaças.

“Uma desaceleração na economia global pode reduzir a demanda por serviços exportados.O aumento das taxas de juros em economias desenvolvidas pode atrair capital de volta a esses mercados, diminuindo os investimentos no Brasil”, disse.

O setor de serviços pode esperar que mais investimentos sejam feitos em tecnologia, inovação e capacitação profissional. Ao passo que, na indústria, a modernização do maquinário, automação e sustentabilidade são os principais pontos. 

“Esses investimentos não apenas sustentam o crescimento do emprego, mas também contribuem para o fortalecimento estrutural da economia, tornando-a mais resiliente a choques externos e internos​​”, completou Moura.

Na conclusão de Assis, vale notar que o processo de formalização do mercado de trabalho está associado, principalmente, aos efeitos defasados da reforma trabalhista de 2017.

Com o impulso da reforma trabalhista ao emprego formal ligado à redução dos custos das modalidades tradicionais de contratação já existentes pré-promulgação, segundo ele.