Caminhões ligados a empresas deixam a Esplanada e autoridades de segurança negociam saída completa

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Mais de um terço dos caminhões que bloqueavam a Esplanada dos Ministérios deixou o local até o fim da tarde desta quinta-feira (9) e autoridades de segurança pública no DF tentavam, no começo da noite, garantir a retirada completa dos 101 veículos pesados que impediam o tráfego nesse ponto central de Brasília.
A desmobilização ocorre após um bate cabeça entre os manifestantes bolsonaristas e o próprio presidente Jair Bolsonaro a respeito do que fazer em relação à paralisação com viés golpista, que visa a atacar o STF (Supremo Tribunal Federal).
Pela manhã, Bolsonaro disse a apoiadores que conversaria com caminhoneiros alinhados ao governo. O chefe do Executivo reuniu-se à tarde com representantes desses profissionais no Palácio do Planalto.
O presidente já havia gravado um áudio na quarta (8) para que aliados repassassem aos caminhoneiros, pedindo liberação das vias.
Além da Esplanada, integrantes da categoria bloquearam trechos de rodovias desde o 7 de Setembro, quando ocorreram os protestos de raiz golpista em apoio a Bolsonaro. Os bloqueios chegaram a 15 estados, mas as estradas acabaram liberadas ao longo do dia. Protestos permaneceram.
“Vou conversar com os caminhoneiros pra gente tomar decisão, tá ok?”, disse o presidente em vídeo divulgado por assessor nas redes sociais.
Os responsáveis pelos caminhões que permaneceram na Esplanada derrubaram bloqueios policiais na segunda (6) e invadiram a via. Eles desrespeitaram o acordo feito com autoridades de segurança pública no DF para que deixassem o espaço até o fim da tarde de quarta (8).
Os caminhões foram usados na manifestação golpista para pressionar pela invasão da via que dá acesso ao STF e ao Congresso. O bloqueio na altura do Itamaraty, que impede o acesso aos dois prédios, foi o único que não foi derrubado pelos manifestantes bolsonaristas.
Após a resistência inicial, um terço dos caminhões foi retirado da Esplanada até o fim da manhã desta quinta, como constatou a reportagem. A SSP (Secretaria de Segurança Pública) do DF seguiu negociando a retirada do restante dos veículos.
A Esplanada dos Ministérios seguiu bloqueada para o trânsito, o que causou transtorno na região central de Brasília. O desrespeito ao acordo feito e as ameaças de invasão fizeram o bloqueio se estender além do previsto e levaram à interrupção do funcionamento do Congresso e do TCU (Tribunal de Contas da União), por exemplo.
A reportagem constatou que os dez caminhões que levam a inscrição da empresa Pro Tork, colocados bem em frente ao Congresso, antes da grade de isolamento, foram retirados do local.
A Pro Tork é uma empresa que fabrica capacetes e equipamentos para motocicletas. Está sediada no Paraná. Os dez caminhões dispostos em frente ao Congresso auxiliavam na pressão por invasão à via que dá acesso ao STF.
Já os quatro caminhões identificados com logotipo do Grupo Brasil Novo, uma empresa de logística sediada em Florianópolis, foram retirados da via e colocados no canteiro central da Esplanada.
O mesmo foi feito com os caminhões identificados com os nomes da Arroz e Feijão Grão Dourado, Irmãos Chiari Agropecuária e Dez Alimentos, empresas do interior de Goiás.
A reportagem tenta desde quarta (8) uma resposta das empresas sobre a presença desses caminhões na Esplanada dos Ministérios.
A Dez Alimentos, por meio de um de seus representantes, afirmou que os caminhões presentes na Esplanada são de caminhoneiros que prestam serviço à empresa com exclusividade na “carga de ida”. Mesmo assim, segundo a empresa, eles teriam participado da manifestação por conta própria.
O Grupo Brasil Novo disse que “não tem interesse em aparecer na mídia”.
Ao longo de dois dias, a PM e a Secretaria de Segurança Pública do DF tentaram negociar a saída de caminhoneiros acampados na Esplanada, obstruindo a via.
O secretário de segurança do DF, Júlio Danilo, confirma que alguns caminhoneiros já deixaram o local.
No cercadinho em frente ao Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro para todos os dias para conversas e produção de vídeos que circulam por redes bolsonaristas, caminhoneiros manifestaram apoio ao presidente. Um deles disse ter vindo de Sinop (MT) e estar acampado em Brasília desde a semana passada.