Política monetária

Campos Neto não vê erros, mas diz que BC pode corrigir 'coisas do passado'

"Naquele momento [cortes da Selic], com as informações que a gente tinha, entendíamos que este era o curso a ser seguido", disse Campos Neto

Roberto Campos Neto, presidente do BC
Roberto Campos Neto, presidente do BC / Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Os rumos do ciclo monetário foram alterados na semana passada, quando o BC (Banco Central) decidiu pelo aumento da Selic (taxa básica de juros). O presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, afirmou que pode haver uma correção nos rumos, mas que o colegiado não considera as medidas tomadas anteriormente como erradas.

“Em alguns momentos, podemos corrigir coisas que fizemos no passado, mas a gente não considera que é um erro. Naquele momento, com as informações que a gente tinha, com a visibilidade que a gente tinha, entendíamos que este era o curso a ser seguido”, disse Campos Neto em entrevista coletiva após a apresentação do RI (Relatório de Inflação) do terceiro trimestre.

“Mas depois, ao longo do curso, você pode chegar à conclusão que aquele conjunto de informações que você tinha no momento não foi o que se mostrou verdade ao longo do tempo. Sempre com o objetivo de ser transparente, da inflação convergir para a meta, com o menor custo para a sociedade”, prosseguiu, de acordo com o “Valor”.

Na avaliação dele há dois possíveis erros, ao embarcar em um ciclo de juros.

“Quando iniciamos um ciclo, tem sempre dois tipos de erro que podem ser cometidos por qualquer banco central. O primeiro é não fazer o suficiente e ter que voltar a fazer naquele mesmo ciclo. O segundo tipo de erro é você ter feito um pouco a mais e depois fazer o ajuste, com um menor custo”, apontou.

A condução da política monetária entre nações emergentes e desenvolvidas tem diferenças, segundo Campos Neto.

“Se um país de mundo emergente, quando faz um ciclo, acaba fazendo menos e precisa voltar a fazer mais no mesmo ciclo, geralmente tem um custo muito grande de credibilidade. Por isso é difícil você ver países do mundo emergente pausando os ciclos e depois continuando na mesma direção. No mundo desenvolvido, já não é tão verdade”, afirmou Campos Neto.

Campos Neto: ‘Brasil é um dos poucos emergentes com alta nos juros’

O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, destacou, em evento realizado na manhã desta terça-feira (24) pelo Banco Safra, o Brasil em meio ao cenário atual das políticas monetárias globais, em relação a outros países emergentes. 

De acordo com Campos Neto, o Brasil é um dos poucos países emergentes, ao lado da Rússia, que ainda enfrenta uma precificação de alta de juros, em um contexto em que muitas economias já iniciaram o ciclo de cortes.

“A gente tem, de uma forma geral, uma precificação que acompanha os EUA com alguma diferença entre os países desenvolvidos. E no mundo emergente, infelizmente o Brasil é um dos únicos, junto com a Rússia, que tem uma precificação de alta de juros”, explicou Campos Neto. 

Ele ressaltou que, apesar de o Brasil ter sido o primeiro a iniciar o processo de corte de juros, o mercado ainda enxerga um aquecimento econômico, o que tem influenciado as projeções.