O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, destacou, em evento realizado na manhã desta terça-feira (24) pelo Banco Safra, o Brasil em meio ao cenário atual das políticas monetárias globais, em relação a outros países emergentes.
De acordo com Campos Neto, o Brasil é um dos poucos países emergentes, ao lado da Rússia, que ainda enfrenta uma precificação de alta de juros, em um contexto em que muitas economias já iniciaram o ciclo de cortes.
“A gente tem, de uma forma geral, uma precificação que acompanha os EUA com alguma diferença entre os países desenvolvidos. E no mundo emergente, infelizmente o Brasil é um dos únicos, junto com a Rússia, que tem uma precificação de alta de juros”, explicou Campos Neto.
Ele ressaltou que, apesar de o Brasil ter sido o primeiro a iniciar o processo de corte de juros, o mercado ainda enxerga um aquecimento econômico, o que tem influenciado as projeções.
Divergência nas políticas monetárias globais
Campos Neto comentou que, em países desenvolvidos, há variações na condução das políticas monetárias, como visto recentemente no Reino Unido e na Zona do Euro.
“O Reino Unido decidiu manter as taxas de juros, enquanto a Zona do Euro pretende ser mais cautelosa”, disse ele. No entanto, ele salientou que, em geral, a precificação de juros nesses países segue um alinhamento com os EUA, embora com algumas nuances.
No cenário norte-americano, Campos Neto observou que o mercado antecipou cortes nas taxas de juros, projetando uma série de reduções mais agressivas do que o esperado pelo Federal Reserve.
“O mercado chegou a entender, logo depois da reunião do Fed, que seriam vários cortes de 50 pontos-base, ou pelo menos que esse poderia ser o ritmo”, afirmou.
No entanto, ele explicou que as expectativas do Fed, expressas nos chamados “dots” (projeções de cada membro do comitê de política monetária), não são tão agressivas quanto o mercado previu.
Brasil e Rússia: exceções entre emergentes
O Brasil e a Rússia surgem como exceções entre as economias emergentes no que diz respeito à política monetária. Enquanto muitos países já entraram em ciclos de corte de juros, o Brasil ainda enfrenta uma precificação de alta.
“O Brasil também foi o primeiro a entrar no processo de queda de juros, e mais recentemente a gente viu uma percepção de que a economia está aquecida”, destacou Campos Neto.
Isso leva o mercado a precificar uma possível manutenção ou até mesmo aumento dos juros no curto prazo, diferentemente da tendência observada em outras economias.
Essa particularidade coloca o Brasil em uma posição desafiadora, especialmente no que diz respeito à competitividade no mercado internacional.
A manutenção de juros altos pode trazer consequências tanto positivas quanto negativas. Por um lado, ajuda a conter a inflação e atrair capital estrangeiro; por outro, pode frear o crescimento econômico, um dilema comum em economias emergentes.
Cenário de desaceleração suave para os EUA
Campos Neto também abordou o cenário de “pouso suave” (soft landing) esperado para a economia americana, com a desaceleração sem uma recessão profunda. Ele observou que o diferencial de juros nos EUA, entre títulos de curto e longo prazo, já voltou para o campo positivo, um sinal de recuperação rápida.
“Quando a gente vê o 2 com 10, ele já está no campo positivo”, mencionou, referindo-se à curva de juros dos títulos americanos de 2 e 10 anos.
Esse ajuste nas expectativas de juros e a recuperação da economia americana trazem alívio para o mercado global, sem sinais de uma recessão severa.
No entanto, o Brasil continua navegando em águas diferentes, com uma política monetária mais rígida, reflexo de um cenário interno de maior aquecimento econômico e pressões inflacionárias.