Campos Neto : “Economia não gira em torno da Selic”

Campos Neto disse que só 20% do crédito é ligado à Selic; o restante é ligado a taxas longas

O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, rebateu as críticas em torno da elevada taxa de juros praticadas no Brasil. Ao ouvir de um empresário na Lide Brazil Conference, nesta sexta-feira (21), que o atual patamar de juros básico, hoje em 13,75% ao ano,  atrapalha o País a crescer, Campos Neto respondeu que só 20% do crédito é ligado à Selic; o restante é ligado a taxas longas. “Obviamente, o Banco Central quer cair o juro”, disse.

“Se a gente não conseguir fazer um movimento na Selic com credibilidade, a taxa longa não cai”, justificou. “O que move o Brasil não é a taxa de juros de um dia, é a taxa de juros de três, cinco, dez anos. Para fazer que a queda da Selic gere um movimento de queda prolongada de juros, precisa ter credibilidade. O Banco Central está esperando o melhor momento para fazer para que isso tenha um ganho real para as pessoas. A economia não gira na Selic”. As informações são do Infomoney.

Para justificar a necessidade de se manter a Selic no patamar em que se encontra, Campos Neto comparou a política monetária a uma tubulação de água que se encontra entupida. Ou seja, para se atingir o fluxo de água desejado numa tubulação entupida, e neste caso pelo elevado porcentual de crédito, o BC precisa elevar a pressão da água.

“Uma das coisas que explicam a tubulação de política monetária entupida é o elevado porcentual de crédito direcionado”, disse, explicando que quando isso ocorre e a política monetária muda, o BC não tem influência sobre este porcentual.

Então, de acordo com ele, para se ter o efeito desejado o BC aumenta a pressão de juro na “tubulação congestionada”. “É o efeito que a gente chama também da meia entrada. Se você tem a meia entrada, a principal tem que ser mais cara para compensar”, disse acrescentando que enquanto no Brasil há 40% de direcionamento de crédito, em outros países o índice é de, em média, 4%. “Isso explica, em parte, o porquê de às vezes o nosso juro ser mais alto. É porque um componente de crédito subsidiado mais alto faz com que nossa política monetária tenha menos efeito”.

Campos Neto insistiu que, estruturalmente, a taxa de juro tem que ser maior quando o componente de crédito subsidiado é também maior. “Isso não é porque eu acho A ou B é correto ou errado. Isso é um estudo que sai da relação entre potência da política monetária e o espaço que a gente tem”, afirmou.

 

Campos Neto: mercado precifica queda de juro desde fevereiro

Em outra ocasião, Roberto Campos Neto disse que desde fevereiro o mercado de juros futuros voltou a precificar cortes da taxa Selic – como já havia acontecido entre meados de agosto e novembro de 2022. Nessa época, a expectativa de redução atingiu 0,79 ponto porcentual no horizonte de seis meses.

A avaliação consta da apresentação usada por Campos Neto na reunião promovida pela XP Investimentos, com investidores em Washington (EUA) nesta quarta-feira (12).

A expectativa de queda da taxa Selic se intensificou na terça (11), após o bom resultado do IPCA de março (0,71%), com a curva já apontando para chance de um primeiro corte de juros no Comitê de Política Monetária (Copom) de junho.

Campos Neto disse ainda que as expectativas de inflação de longo prazo estavam ancoradas em 2022, mas desde novembro passado iniciou-se um processo de deterioração.

“A inflação caiu, mas as pressões permanecem. O componente de demanda da inflação no Brasil é relativamente forte”, ressaltou. “Expectativas de inflação de longo prazo estavam ancoradas em 2022, mas desde novembro iniciou um processo de deterioração”, complementou.

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