A política monetária pode sentir um grande efeito vindo do pacote com medidas fiscais prometido pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Isso se for capaz de gerar uma mudança grande o suficiente em variáveis observadas pelo BC (Banco Central) na hora de definir a Selic, disse o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, nesta segunda-feira (28).
O executivo esteve em reunião com investidores organizada pelo Deutsche Bank, em Londres. Na ocasião, ele afirmou que o fiscal e a política monetária não têm relação mecânica, mas há a possibilidade de afetação no prêmio de risco, taxas longas de juros e câmbio.
“Tem que ser algo que produza uma mudança nas expectativas que seja grande o suficiente para reverter o prêmio de risco, a expectativa de inflação e a curva longa de juros, e isso alimentaria a função de reação (do BC) de maneira positiva”, disse Campos Neto.
“Se você tem um choque positivo, vai influenciar a curva longa de juros, as taxas de juros, o câmbio, as expectativas. E essas variáveis são importantes para nossa função de reação”, prosseguiu.
O presidente do BC reiterou, durante a apresentação, que se o Brasil quer ter juros estruturalmente mais baixos, medidas que o mercado interprete como um choque fiscal positivo são necessárias.
Anteriormente, a equipe econômica do governo previu que após o término das eleições municipais seria anunciado um novo pacote de contenção de gastos públicos, mirando tornar o arcabouço fiscal sustentável e melhorar a trajetória da dívida pública.
Campos Neto também apontou que têm visto uma piora recente nos prêmios de risco mais relacionados ao tema fiscal, especialmente pela percepção do mercado sobre o afrouxamento das metas fiscais a partir de 2025.
Além disso, o mercado também tem levantado questionamentos sobre a transparência das estatísticas do governo para as contas públicas, de acordo com a “CNN Brasil”.
“Parece haver um crescimento do prêmio de risco que está mais e mais associado a isso (fiscal), e para haver uma reversão é necessário criar uma percepção de que você fez algo que pode mudar a fotografia estruturalmente. Espero que o plano que será anunciado seja percebido como capaz de fazer isso”, afirmou Campos Neto.
Campos Neto: protecionismo está aumentando em todo lugar
O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, declarou nesta segunda-feira (28) que o protecionismo está aumentando ao redor do mundo. A afirmação foi feita durante uma reunião com investidores organizada pelo Deutsche Bank, onde Campos Neto discutiu o cenário econômico global.
Campos Neto destacou que os dados indicam uma elevação nas restrições comerciais de bens globalmente. “Estamos seguindo um caminho de aumento de restrições comerciais”, afirmou, de acord.
Campos Neto também expressou preocupação com o crescimento da dívida pública mundial. “Muitos países deveriam estar pensando em ajustar seus resultados primários para lidar com os custos da pandemia, o aumento da e os juros da dívida mais altos para a rolagem, mas isso não está ganhando”.
Ao mencionar os EUA, ele relatou que o cenário atual indica um pouso suave, mas ressaltou a volatilidade recente. “Os próximos dois ou três índices de inflação serão importantes para determinar o ritmo das reduções [nas taxas de juros]”, acrescentou.