Para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o processo inflacionário do Brasil está longe de ser resolvido, embora parte dos serviços tenha começado a cair. Em palestra na 24ª conferência anual do Santander (SANB11) Brasil, o economista relembrou os problemas desencadeados pela pandemia e que ainda perduram.
Foram injetados na economia US$ 9 trilhões em incentivos fiscais e monetário, para uma economia global de US$ 80 trilhões. “A gente entendia que ia ver uma inflação um pouco mais persistente”, afirmou.
“Na verdade, o dinheiro colocado em circulação e o estímulo foi tão grande que fez se criasse um excesso de poupança por um prazo longo. E quando estimulou a demanda de bens, estimulou também a demanda de energia. Então, teve uma inflação de bens junto com a inflação de energia, que depois se agravou com a guerra (na Ucrânia)”, explicou.
Todos os Bancos Centrais subiram os juros no período pós-pandema e só agora a inflação global começa a cair. “Mas quando a gente olha os núcleos de inflação, eles estão bastante persistentes”, disse.
Sobre meta de inflação, Campos Neto lembrou que houve um debate no início do ano que gerou muito ruído sobre qual seria o patamar ideal para o Brasil. “A gente sempre advogou que aumentar a meta não dava grau de liberdade, ao contrário, nos retirava. Em vários países, as metas de inflação estão entre 2% e 3%”, comparou.
Mas destacou que o Brasil é um dos poucos países que está com as expectativas de inflação, tanto em 2023, quanto em 2024 e 2025 dentro do intervalo da meta.
Campos Neto: “voto de Minerva” no Copom
O “voto de Minerva” de Roberto Campos Neto, que desempatou a votação do Comitê de Política Monetário (Copom), não aconteceu na última reunião do colegiado, em agosto, mas no encontro anterior, em junho, afirmou o presidente do Banco Central.
Respondendo a uma pergunta sobre a surpresa de parte do mercado com seu com o seu voto pelo corte de 0,50% na Selic – a votação acabou em 5 a 4 entre os nove participantes – o presidente do BC revelou que havia também uma divisão na reunião de junho.
Para Campos Neto, era importante manter aberta a discussão sobre possíveis cortes de juros à frente, alegando que haveria a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) nos dias seguintes e que uma possível manutenção da meta de inflação seria benigna para as expectativas. “Eu tinha um grau de convicção de que subir a meta não dava grau de credibilidade e que, mantendo a meta em 3%, a expectativa de inflação ia cair”, afirmou. De fato, após a manutenção da meta, a expectativa de inflação recuou para 3,5% e a dinâmica melhorou, completou.
Assim, conforme explicou o presidente do BC, na última reunião do Copom (entre 1º e 2 de agosto), quem tinha se mantido fechado para cortes de juros no encontro anterior votou em 0,25%. de corte. E quem achava uma boa medida manter a discussão aberta optou pelo corte de 0,50%.