SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Carlos Zarlenga não é mais o presidente da General Motors na América do Sul. A notícia divulgada nesta quarta (25) surpreendeu o mercado automotivo e ocorreu no momento em que a montadora vem perdendo posições no ranking nacional de vendas.
Em nota, a fabricante afirma que Zarlenga decidiu deixar a GM para buscar outras oportunidades.
Zarlenga já chegou em tempos de crise. O executivo de 48 anos assumiu a montadora no Brasil em setembro de 2016, ano de forte queda nos emplacamentos de veículos. Antes ele havia sido presidente da empresa em seu país de nascimento, a Argentina. A partir de abril de 2019, Zarlenga acumulou a presidência da montadora na América do Sul com a missão de conduzir a retomada -que foi interrompida pelo novo coronavírus.
Um pedido de demissão como esse é um fato raro entre as montadoras americanas que, por tradição, conduzem seus processos sucessórios de forma sigilosa e organizada. Quando um alto executivo deixa o comando, já há outro pronto para assumir o posto imediatamente.
Os problemas começaram em fevereiro, com interrupções pontuais. Houve retomada em abril, mas a linha de montagem localizada em Gravataí (RS) parou novamente em maio. O retorno em um turno só ocorreu no dia 16 de agosto.
Em nota divulgada no início do mês, Zarlenga disse que a montadora iria começar a atender os milhares de clientes que aguardam pelos carros, produzidos em versões hatch e sedã.
Zarlenga evitou dar entrevistas neste ano, apesar de ser um dos executivos com menos “papas na língua” do setor automotivo.
Em maio de 2020, quando a pandemia de Covid-19 fazia o Brasil mergulhar em mais uma crise, o executivo criticou o apagão da indústria nacional e a desvalorização do real.
“A localização é uma questão crítica para reduzir a exposição ao câmbio, temos focado nisso já há algum tempo. Mas, claramente, os níveis atuais ainda deixam uma grande parte do nosso negócio exposta, o real tem sido uma das moedas com pior desempenho de todos os mercados emergentes”, disse ao jornal Folha de S.Paulo.
“Isso afeta drasticamente a lucratividade da indústria e da GM. A maioria das empresas de automóveis está perdendo dinheiro, e o colapso extraordinário do real faz esse cenário ficar insustentável.”
Essa não foi a primeira vez que Zarlenga considerou o cenário insustentável. Em janeiro de 2019, primeiro mês do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), o executivo assinou um memorando que foi enviado a funcionários expondo a situação complicada da empresa no Brasil.
O texto dizia que, após incorrer em fortes perdas nos últimos três anos, a operação da GM no país havia atingido um momento crítico que exigia sacrifícios de todos.
O memorando mencionava uma fala da presidente global da montadora, Mary Barra.
“Barra deu sinais de que a GM está considerando sair da América do Sul. O Brasil e a Argentina, os maiores mercados sul-americanos da GM, continuam sendo desafiadores.”
A situação mudou desde então. A montadora passou a se dedicar a modelos de maior valor agregado e confirmou um investimento de R$ 10 bilhões entre 2019 e 2024.
As últimas ações públicas de Zarlenga à frente da montadora foram os anúncios dos novos produtos.
Apesar das dificuldades, a empresa tem obtido bons resultados comerciais com a picape S10 e faz o possível para atender os pedidos pelo Chevrolet Tracker, que também enfrenta problemas de produção em São Caetano do Sul (Grande São Paulo).
No comunicado divulgado pela montadora, o presidente da GM Internacional, Steve Kiefer, agradeceu a liderança de Zarlenga na região desde 2013.
“Carlos levou a marca Chevrolet à liderança de mercado no Brasil e manteve-a na América do Sul”, disse Kiefer.