Economia

China: deflação pode aquecer commodities no Brasil, diz especialista

Ao BP Money, Luciano Simões avalia a crucial parceria entre Brasil e China para as commodities

Embora o atual cenário seja relativamente desanimador para as commodities brasileiras, visto que as projeções apontam uma possível desaceleração em função da crise climática, influenciada pelo fenômeno El Niño, novos horizontes se revelam e sinalizam um patamar mais favorável. E o sinal verde vem lá da China, com o recente corte nas taxas de reservas compulsórias pelo Banco Central chinês, visando impulsionar empréstimos e estabilizar o mercado acionário local.

Ao BP Money, o economista-chefe Luciano Simões analisa que a China, como um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, pode impactar diretamente a economia nacional e fortalecer o setor de commodities

A influência da parceria para as commodities brasileiras é um ponto crucial para a economia do país. No entanto, de acordo com a análise, o economista contrapõe ressaltando que o movimento do Banco Central Chinês não é o único fator determinante para os preços das commodities, mas pode contribuir para dinâmicas de mercado.

“A condução do Banco Central Chinês não decide sozinha os preços das commodities, mas pode complementar. A oferta mundial, demanda global, câmbio e outros fatores continuam influenciando significativamente”, avaliou.

Enquanto grande parte dos bancos centrais em todo o mundo ainda tentam arrefecer a inflação, a China enfrenta a queda dos preços. Para o economista-chefe, a realidade inflacionária da segunda maior potência mundial cria um ambiente complexo para o comércio internacional e os investimentos estrangeiros.

Deflação na China também acende alerta

O Brasil, como participante crucial nesse contexto, deve monitorar de perto os desdobramentos e adotar estratégias flexíveis para enfrentar os possíveis desafios e aproveitar as oportunidades que surgirem.

Por outro lado, a economista-chefe na A.C. Pastore & Associados, Paula Magalhães, avaliou, em resposta ao BP Money, que tem a percepção de um cenário mais desafiador para o Brasil. A profissional observa que a China indica uma tendência de que a economia está perdendo força. Magalhães ressalta que cenários como este, geralmente, não são favoráveis para os mercados emergentes.

“A deflação na China sinaliza o que temos visto nos dados de atividade, uma economia enfraquecendo. Isso não costuma ser bom para mercados emergentes em geral, e o Brasil exporta bastante para a China”, disse a economista-chefe e completou: “mas hoje como o Petróleo acabou virando uma pauta importante na nossa exportação, estamos menos sensíveis”.

Desafios para as exportações brasileiras

Simões ressalta que a decisão da autoridade monetária chinesa, com o corte sobre os compulsórios dos bancos em 0,5 ponto porcentual é uma movimentação que, inevitavelmente, têm impactos regionais e nacionais. 

“Com a liberação de crédito, podemos observar um aumento na demanda chinesa por produtos brasileiros, resultando em uma possível expansão nas exportações”, avalia.

Embora o aumento na demanda  da segunda maior economia do mundo possa ser positivo, há desafios para as exportações brasileiras, principalmente no setor industrial. A análise aponta que produtos brasileiros industriais podem enfrentar concorrência mais intensa devido à deflação dos produtos chineses.

“Se a demanda chinesa aumentar, mas eles mantiverem preços deflacionados, produtos brasileiros industriais podem ser impactados. A competição pode se intensificar com produtos chineses chegando ao Brasil a preços mais baixos.”

Mercado de ações brasileiro

A redução das taxas de reservas compulsórias na China não apenas influencia as transações comerciais, mas também afeta o mercado de ações brasileiro. O economista destaca que a reação dos investidores à medida chinesa pode impulsionar as ações brasileiras, especialmente aquelas ligadas ao setor de commodities.

“Se os investidores interpretarem positivamente a medida, poderemos ver um impulso nas ações brasileiras relacionadas ao setor de commodities. A relação Brasil-China, especialmente no agronegócio, pode se beneficiar”, analisou Luciano Simões.

Investimento estrangeiro

O corte nas taxas de reempréstimo e redesconto na China levanta questões sobre a dinâmica de investimentos estrangeiros no Brasil. A análise aponta que o Brasil enfrenta desafios em atrair investidores em comparação com a China, que oferece liquidez e condições mais atrativas.

“A dinâmica de investimento estrangeiro passa pela taxa de juros, risco do país e retorno esperado. A China pode atrair investimentos mais facilmente neste momento, sendo uma gigante econômica, enquanto o Brasil enfrenta desafios”, disse o economista chefe.