Ciclo de alta da Selic deve ser interrompido?

O Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic em 0,50 p.p. nesta quarta-feira (3), a 13,75% ao ano

O Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic em 0,50 p.p. nesta quarta-feira (3), a 13,75% ao ano. Após consecutivas altas desde o início de 2021, o ciclo de alta da taxa de juros brasileira deve ser interrompido? O BP Money entrevistou alguns especialistas que divergiram sobre o questionamento.

Para Carla Beni, economista e professora de MBAs da FGV, o novo aumento da Selic já foi uma sinalização ruim e que o ciclo de alta da taxa deveria ser interrompido. “Quanto mais a gente se afasta de um retorno para um dígito, pior é a situação. Uma taxa básica de juros da economia a dois dígitos é uma sinalização muito ruim. Mexe com a expectativa da economia, e o Brasil tem uma taxa de juros praticamente a mais elevada do mundo”, explicou a especialista. 

“A inflação está projetada para terminar em 7,15%. Se termina o ano com uma inflação neste valor, ou que termine próximo a isso, numa Selic a 13,75%, a diferença entre a Selic e o IPCA é a taxa real de juros da economia, pois é a descontada da inflação. É uma taxa muito elevada para qualquer patamar internacional. Já em 2023, estamos projetando uma Selic a 11%, então a gente vai fazer a manutenção de dois dígitos para 2023, e isso é muito ruim”, completou Beni. 

Já para João Beck, economista e sócio da BRA, o ciclo de alta não deve ser interrompido neste momento, e novas altas deverão ocorrer até o final deste ano. “Deve vir mais alguma alta na magnitude de 0,25 p.p., mas isso não é por conta dos dados de inflação recente, até porque esses dados têm apontado para uma desaceleração da inflação por diversos motivos”, contou. 

Apesar de acreditar em novas altas da Selic, o economista e professor da UESC, Carlos Eduardo, prefere aguardar os acontecimentos dos próximos meses. 

“Uma das possibilidades é o BC dar uma segurada no ciclo de aperto monetário, uma vez que há sinais de que o mesmo também esteja acabando nos EUA. Se esse processo continuar ocorrendo e o mercado não comprar muito a ideia de que a entidade conseguirá na meta do horizonte razoável, talvez ele deva continuar esse ciclo de aperto. É preciso aguardar o que acontecerá nos próximos meses”, salientou Carlos Eduardo.

“Meu palpite é que a gente ainda observe uma ou mais rodadas de altas nos juros, provavelmente em um ritmo menor de subida dos juros, mas ainda assim altas”, concluiu o economista. 

Para Beck, a inflação ainda não está domesticada. Segundo ele, diversos fatores negativos acabaram prejudicando as altas da Selic.

“Tivemos muitos problemas, como geadas, crises de energia, mudança na regra do teto de gastos, Guerra da Ucrânia… Então foram notícias ruins que foram ocorrendo ao longo desse período e foram surpreendendo negativamente todo o mercado. Só agora que esperamos, caso nenhuma notícia ruim aconteça, novamente estar chegando em um fim de ciclo”, pontuou. 

Eleições podem impactar ciclo de alta da Selic

Outro fator que deve impactar negativamente no combate a inflação são as Eleições, marcadas para ocorrerem no próximo dia 2 de outubro. Para Carla Beni, o grande desafio será a âncora fiscal. 

“Um novo governo terá o grande desafio de decidir qual será a âncora fiscal que iremos trabalhar. Se não vai ser o teto de gastos, qual será? Que métrica o Brasil irá trabalhar? A âncora fiscal é um desafio, pois os candidatos atuais indicam que vão romper com o teto de gastos, mas não há uma explicação do que será colocado no lugar. Essa questão fiscal é crucial, além do controle inflacionário. Precisamos dessas definições”, questionou Beni. 

Para Beck, algumas boas notícias estão surgindo. No entanto, ele ainda salienta para o risco fiscal, que deve fazer com que o Banco Central siga subindo a taxa Selic. 

“A taxa de juros começa a fazer algum efeito. Tivemos uma valorização recente do real e também uma desvalorização bem relevante do preço do petróleo e de outras commodities. Estamos tendo boas notícias, porém, existe ainda um risco fiscal, principalmente provocado pelas eleições, e o BC terá que subir um pouquinho essa taxa de juros, pois se está tendo uma porteira muito aberta por conta de gasto fiscal em decorrência das eleições”, explicou Beck.

Recessão global pode controlar inflação?

Quanto a recessão global, que vem impactando as principais economias do mundo, fazendo com que o Fed, banco Central dos EUA, venha subindo a taxa de juros norte-americana, João Beck prefere olhar o copo meio cheio, e crê que a própria recessão contribuirá para controlar a inflação. 

“A função do Banco Central é deixar a inflação controlada. Uma recessão, por pior que seja a notícia, ela ajuda na inflação. Não é imediato, mas uma recessão ajuda a controlar a inflação. Não é exatamente uma boa notícia, mas tem, pelo menos, uma contrapartida de se controlar a inflação. Essas commodities todas que estão caindo no mundo é resultado dessa recessão. Por conta disso, todos os preços de commodities caem. Por pior que seja essa notícia, se tem um lado bom, que é controlar a inflação”, explicou Beck. 

O aumento da Selic nesta quarta (3) foi o 12º consecutivo na taxa de juros, que chegou ao maior patamar desde novembro de 2016, quando estava em 14% ao ano.

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