Cavalo de Troia

COEs têm retorno menor que de títulos públicos, aponta FGV

Diferente de fundos de investimento, os gestores do COE não são obrigados a divulgar quanto cobram para administrar o capital do cliente.

Foto: Freepick
Foto: Freepick

Um estudo desenvolvido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) aponta que maior parte dos COEs (Certificado de Operações Estruturadas) apresentam retorno abaixo da “taxa livre de risco”, ou seja, o rendimento é menor que o de títulos públicos. 

O “pacote” que é oferecido aos investidores de varejo geralmente vem com uma “chamada” atrativa, incluindo o nome de grandes organizações. Contudo, a venda o produto ocorre com certas condições. 

“A corretora te vende o investimento com algumas condições. Se a ação da empresa subir até 10%, você ganha o percentual que a ação subir. Se ela subir mais que isso, o máximo que você vai ganhar é 10%. Se cair, você ganha apenas o valor inicial de volta”, disse documento da FGV. 

Um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, Bruno Giovannetti, acrescenta que “quando se vai investir em qualquer ativo, uma coisa básica é calcular o retorno esperado”. 

Sendo assim, por meio de um modelo estatístico, identificaram que 252, dos 284 COEs analisados, renderiam um valor irrisório, não sendo equivalente ao risco corrido com o investimento. 

“Apenas 32 de um total de 284 COEs oferecem um retorno esperado maior que o do título Tesouro Prefixado disponível no momento da emissão do COE. Além do mais, os COEs que oferecem um retorno em excesso positivo, fazem isso com bastante volatilidade”.

O “retorno em excesso positivo” diz respeito ao lucro acima do obtido com um título público. Essa informação não fica explicita para o investidor.

O estudo aponta que as lâminas informativas (similar a um manual de instruções do investimento) explicam quais são os cenários de perda e ganho esperados, contudo, não deixam explicito qual o retorno esperado. 

O COE não tem liquidez

Grande parte dos COEs tem prazo definido de aproximadamente cinco anos. Nesse período o investidor não consegue movimentar o capital aplicado. Ou seja, não há liquidez, o que não é um problema. A questão é, segundo a FGV, o investimento não garante um retorno maior que o oferecido por um investimento que tem liquidez (que te permite resgatar o capital). 

É possível que algumas corretoras comprem o ativo caso o investidor não esteja contente com a aplicação, mas esse movimento tem um custo. 

“Em uma reclamação no Reclame Aqui, um responsável pela área de qualidade e de atendimento da XP escreveu que o investidor pode perder ‘mais de 50% do capital’ caso solicite o resgate antecipado”, sinalizou o estudo.

Além disso, nos 32 COEs que pareciam oferecer uma rentabilidade razoável para o investidor, o risco era muito alto.

As taxas do COE

Diferente de fundos de investimento, os gestores não são obrigados a divulgar quanto cobram para administrar o capital do cliente. “No COE essa taxa é muito bem escondida na “estrutura” do produto. Ainda como comparação, se o investidor for comprar ações em bolsa, sabe que vai pagar corretagem e emolumentos para a B3. Esses custos são públicos. No COE não”, afirma FGV.

“Há evidência de que a complexidade desses produtos é utilizada pelos emissores para atrair compradores desavisados e, ao mesmo tempo, produzir produtos com mark-up [margens de lucro] elevados”, destacam pesquisadores.