RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) aprovou o início das operações, a partir desta quinta-feira (16), da usina termelétrica GNA 1, a segunda maior do país, mais um reforço para o setor elétrico em meio ao período mais crítico da crise hídrica.
Com custo de geração de R$ 552 por MWh (megawatt-hora), a térmica vai acrescentar 1.338 MW ao sistema, que precisava de 5,5 mil MW para garantir o abastecimento até o início das chuvas, segundo as últimas projeções do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
“A entrada dessa usina será muito benéfica para o setor, especialmente na atual conjuntura. A energia será injetada no sistema na região sudeste, a mais castigada com a estiagem dos reservatórios”, disse, em nota, o diretor-geral da Aneel, André Pepitone.
A energia gerada pela térmica é capaz de abastecer 4 milhões de habitantes. Por estar na região Sudeste, corre menos risco de ter a capacidade de entrega impactada por gargalos no sistema de transmissão de energia do país.
A térmica tinha início de operações previsto para o primeiro semestre, mas teve que esticar o cronograma devido a problemas durante a fase de implantação e comissionamento dos equipamentos.
O projeto é controlado pela Prumo, dona do Porto do Açu, pela petroleira BP e pela fabricante de equipamentos elétricos Siemens. A princípio, operará com gás importado em navios, mas o plano é conectar um gasoduto do pré-sal ao porto para abastecer a usina.
Contratada em leilão de energia de 2017, a GNA 1 tem um custo de produção menor do que as térmicas contratadas de forma emergencial pelo governo para enfrentar a crise hídrica. Mas ainda assim, a tendência é que opere a plena carga nos próximos meses, pressionando ainda mais a conta de luz.
Seus investidores têm outra térmica em construção no porto, a GNA 2, com potência de 1.672 MW, com previsão de início das operações em 2024. Neste momento, diz a Aneel, o Porto do Açu se tornará o maior complexo termelétrico do país.
O início das operações da GNA 1 é comemorado pelo governo como mais uma medida para enfrentar a seca sobre os reservatórios das hidrelétricas do Centro-Sul e minimizar os riscos de apagões antes que as chuvas de verão comecem a cair.
No sábado (11), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, esteve no norte de Minas Gerais para cerimônia de início de operações de uma linha de transmissão que amplia em 25% a capacidade de exportação de energia do Nordeste para o resto do país.
Com capacidade para transportar 1,3 mil MW, esse projeto permitira um melhor aproveitamento do parque gerador nordestino, que se desenvolveu de forma acelerada nos últimos anos com a construção de parques eólicos e solares.
No evento, Albuquerque voltou a dizer que, com as medidas já adotadas pelo governo, o risco de racionamento de energia em 2021 está descartado. O governo, porém, começa a olhar com preocupação para 2022 e já aprovou a contratação emergencial de térmicas por mais cinco anos.
A contratação é justificada por avaliação do ONS e da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) sobre o cenário após as chuvas de verão. O país entrará o ano com os reservatórios em níveis muito baixos e, para não passar sufoco, precisa ampliar a capacidade de geração.
Nesta terça (14), os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste estavam com 18,38% de sua capacidade de armazenamento de energia. A previsão do ONS é que, com as medidas de reforço na oferta e contenção da demanda, cheguem a novembro em 11,3%.
O lago de Ilha Solteira, maior hidrelétrica da bacia do Rio Paraná, atingiu o limite mínimo para operação da hidrovia Tietê-Paraná, estipulado em 323 metros acima do nível do mar, o que não ocorria desde a seca de 2014/2015, quando o transporte foi totalmente paralisado na rota.
Em condições normais, diz o ONS, a geração de energia na usina seria comprometida, mas essa restrição foi flexibilizada e o operador pode levar o nível até 314 metros. Considerando este limite, diz a operadora da usina, a CTG (China Three Gorges), o reservatório ainda está com 56% de sua capacidade de armazenamento de energia.