SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A programação para o Simpósio de Jackson Hole chegou oficialmente nesta quinta-feira (26) e, com ela, uma enxurrada de expectativas sobre qual será o destino da economia americana -e, consequentemente, da economia mundial.
O evento anual promovido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) é amplamente aguardado pelo mercado e costuma dar as diretrizes da política monetária global.
A expectativa é que o executivo traga uma visão mais clara sobre o programa de estímulos americanos e sobre a expectativa de inflação -que vem sendo um gatilho importante para as perspectivas de juros.
Desde o início da pandemia, em 2020, o governo americano injetou mais de US$ 3 trilhões (R$ 15,7 trilhões) na economia dos Estados Unidos.
Com a melhora da economia e dos números de emprego dos Estados Unidos, a autarquia já começa a debater qual seria a melhor forma (e o melhor momento) para diminuir ou até parar com essa injeção de dinheiro.
Na prática, a sinalização de uma desaceleração no ritmo dos estímulos americanos (tapering) significa uma redução no montante de títulos públicos comprados pelo Fed e refletem, consequentemente, em uma redução de liquidez -e em uma possível alta de juros no médio e longo prazo.
Segundo a economista, o mercado ainda não percebe um consenso entre os membros do Fomc (comitê de política monetária do Fed) e, apesar de o banco central americano já ter indicado que só dirá quando e quanto vão retirar dos estímulos na próxima reunião, há uma espera por mais clareza sobre os rumos que o Fed deverá tomar -o que significa que qualquer diretriz que Powell traga deve mexer com os mercados globais.
“O Fed já deixou claro que o tapering não necessariamente significa aumentar os juros logo. A expectativa é que a taxa só suba em 2023. Mas é importante dizer que mesmo sem os juros subirem, essa redução de liquidez impacta mercados emergentes, como o Brasil”, disse Sá.
Esse impacto seria perceptível de maneira mais direta na Bolsa de Valores. Com uma maior probabilidade de ganho nos Estados Unidos, a tendência é que investidores (principalmente estrangeiros) optem pelo mercado americano -que também é mais seguro- em detrimento de outros lugares do mundo.
Assim, quanto mais rápida ou maior é a retirada dos estímulos, pior é o impacto para os países emergentes.
Além disso, sendo uma referência mundial, o aumento de juros nos Estados Unidos também reflete em um aumento da taxa básica brasileira , que já sofre influência da inflação local e do cenário político e fiscal. O movimento de alta da Selic impacta não apenas investimentos, mas outros pontos da economia, como o crédito.
Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o ponto de virada em relação aos estímulos deve ser colocado apenas para o ano que vem e todos os movimentos da autoridade monetária tendem a ser condicionados à evolução da conjuntura econômica.
“Com os preços em níveis elevadíssimos, ainda que categorizados como temporários, a autoridade deverá intensificar a mensagem sobre o mercado de trabalho ao afirmar que sucessivas surpresas conduzirão a uma condução mais austera da política monetária”, afirmou.
Segundo Sanchez, o reflexo dessa decisão para os investidores só será sentido no médio e longo prazo -e grande parte de seus efeitos já estão precificados pelo mercado.
“Há uma perspectiva de alta dos juros mas isso só vai acontecer lá na frente e já está precificado. São alterações muito sutis. Do lado dos investidores, é possível que esse movimento exija uma reorganização das finanças, uma vez que haverá uma melhor remuneração na renda fixa e parte dos recursos alocados em ações acabam migrando para essa categoria”, completou.