SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As altas taxas de desemprego no Brasil são ainda mais altas entre jovens de 18 a 24 anos. Dados do IBGE mostram que, no segundo trimestre deste ano, o desemprego nessa faixa etária era de 29,5% ?enquanto a média nacional no período era de 14,1%.
Em momentos de crise, em que faltam ofertas de emprego e sobram interessados, é natural que os empregadores prefiram quem já tem experiência, explica Ana Kuller, coordenadora da área de educação do Senac São Paulo. “Com maior disponibilidade de força de trabalho, há um superdimensionamento das exigências para o preenchimento das vagas”, diz.
Segundo Kuller, o cenário de dificuldades pode levar muitos jovens a um estado de desesperança e há risco de que eles aceitem trabalhos em péssimas condições.
“O excesso do contingente disponível, sem que haja políticas públicas de acesso ao trabalho e à educação de qualidade, torna os jovens alvo fácil do trabalho precarizado, sem direitos ou garantias”, afirma.
Para aumentar as chances de se inserir no mercado, um bom caminho, de acordo com Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho, é procurar cursos de qualificação profissional, que são mais curtos do que técnicos.
“Os cursos ajudam os jovens a entrar [no mercado numa situação] um pouco melhor, já com algum conhecimento. As empresas desejam essa formação, porque ela garante um melhor desempenho desde o início”, afirma.
Além de obter conhecimentos nas aulas, o aluno pode recorrer às instituições para fazer pontes com o mundo do trabalho. “As escolas operam como intermediadoras com os setores produtivos, encaminhando seus alunos para oportunidades de estágio e vivências profissionais, por meio de convênios”, afirma Kuller, coordenadora do Senac.
Na hora de fazer o currículo ou durante uma entrevista, o jovem que nunca trabalhou deve apresentar outras experiências que já teve na vida.
Na sua primeira entrevista de emprego, o estudante Thomas Patrick Verdier, 21, falou sobre projetos que fez na faculdade e sobre um aplicativo que desenvolveu com colegas durante as férias. “Eu estava nervoso, mas o entrevistador me deixou muito à vontade, foi uma conversa mais informal do que eu esperava”, conta ele, que conseguiu uma vaga de programador-júnior no Grupo Stefanini no meio do ano.
Outro ponto importante é mostrar abertura e boa vontade para fazer funções de quem está começando numa carreira. “Na entrevista, falei do que mais gostava, mas disse que estava disposto a trabalhar em qualquer área e aprender”, conta Verdier.
A gerente de gente e cultura do Grupo Stefanini, Carla Alessandra de Figueiredo Silva, diz que a empresa costuma contratar jovens que nunca trabalharam. “Temos que analisar o potencial desse profissional, sua disposição e as coisas que já fez. Levamos em conta as experiências que ele teve na escola, em feiras de ciências. Muitos já fizeram trabalhos informais, para familiares e amigos.”
Segundo a gerente, também é importante o jovem demonstrar como está ordenando a carreira. “Tentamos olhar para sua iniciativa, como busca resolver problemas de sua vida e o quanto sabe sobre o que ele quer.”
Portanto, um processo de autoconhecimento é fundamental para quem está à procura do primeiro emprego. “Tudo começa sabendo o que você gosta de fazer, o que faz seu olho brilhar”, diz Fatima Motta, professora da ESPM.
“Nessa idade é difícil escolher, e muitos ficam paralisados, mas eu sugiro que encarem a carreira de forma mais leve, que seja a resposta para o momento atual, não para a vida toda”, aconselha Motta.
Depois de saber quais são os interesses próprios, é preciso olhar quais são os caminhos possíveis. Alguém que se interessa por marketing pode começar a carreira como vendedor; alguém que gosta de surfar pode ensinar surfe para crianças, cita Motta. Para ela, quem faz algo com prazer e objetivo vai sempre conseguir sucesso.
“A partir do momento que aceito o que me é dado e tenho entusiasmo, vou começar a construir minha carreira e evoluir. Não adianta querer começar aos 18 anos num cargo de gerência. E tem que saber que todo trabalho vai ter partes não tão agradáveis”, afirma.
Para obter uma boa colocação, deve-se ainda abrir mão da ilusão de encontrar um emprego perfeito. “Tem que colocar o pé na estrada e caminhar, com força de vontade e sem frescura. Está difícil para todo mundo, mas tem oportunidades de trabalho no que se faz bem”, diz Motta.
Outra coisa importante para quem está começando é tomar cuidado com a ideia de que tudo pode se resolver com empreendedorismo. “Não basta só querer. O empreendedorismo é muito desafiador, porque a pessoa tem que ser multifuncional: vai organizar o financeiro, a parte legal, vai ser o vendedor, comprar a matéria-prima. Já vi jovens que ficam com uma sensação de incompetência que não é verdadeira”, afirma Inoue, do Itaú Educação e Trabalho.