Embora a invasão da Rússia no território ucraniano tenha ocorrido nas primeiras horas desta quinta-feira (24), alguns efeitos já podem ser antecipados por analistas. Os temores negativos que estão por vir não se limitam ao território europeu, muito menos à região norte-estadunidense; os respingos da crise entre os governos de Vladimir Putin (Rússia) e Volodymyr Zelensky (Ucrânia) devem respingar sobre o mercado de ações brasileiro, principalmente no que tange às commodities nacionais, afirma Pedro Queiroz, Head de renda variável da BP Money.
“O cenário menos pior seria a Rússia anexar somente os estados separatistas, que têm a maioria da população pró-Rússia. Mesmo assim, o ocidente vai aumentar o número de sanções, o que deve impactar nas principais commodities”, avalia Queiroz, lembrando que a Ucrânia e a Rússia são umas das principais produtoras de trigo, alumínio, gás natural e petróleo. Nesta manha, o petróleo disparou nos mercados futuros, com influência do conflito, a commodity ultrapassa os US$ 103 por barril, com aumento de US$ 6 (7%) registrado às 6h00 (horário de Brasília).
Desta forma, neste cenário em que o mercado de commodities sofre uma pressão externa, o aumento no preço deste setor, por sua vez, impulsiona a inflação. O especialista prevê um maior aperto monetário, que deve ser adotado pelo Banco Central a fim de conter a disparada inflacionária sob a economia nacional, gerando um movimento de aumento da taxa básica de juros, a Selic, pela autarquia monetária brasileira.
“No pior dos cenários, se vier a estourar uma crise global, acredito que teremos uma crise hiperinflacionária, por conta das commodities. os principais países que estão envolvidos nesta guerra são países produtores ou consumidores de commodities. Podemos chegar ao ponto de que o preço do Petróleo, por exemplo, estrangule a demanda. Se o Bent [tipo de petróleo] passar de US$ 40, a tendência é o estrangulamento da demanda, ou seja, vai estar tão caro que ninguém terá como consumir” avalia o head de renda variável.
Indo mais além, fora do cenário nacional, um cenário internacional, Pedro Queiroz destaca que os títulos estadunidenses também devem sofrer consequência. Os Bonds americanos, investimento em renda fixa feito nos Estados Unidos, que encontravam-se em uma subida de rentabilidade, devem apresentar uma valorização, “uma vez que a procura vai ser gritante por segurança e uma forma de se proteger vai ser a procura por Bonds americanos”. Neste sentido, ele explica que quanto maior a demanda, menor a rentabilidade o título apresenta.
Destaca-se aqui que o primeiro grande impacto sentido no país foi positivo, com a queda do dólar. A moeda americana registrou nesta terça-feira (22) sua quarta redução seguida frente ao real e fechou em 1,09%, sendo negociada a R$ 5,05.
A rápida escalada das tensões já refletiram no mercado financeiro, com bolsas de valores despencando em diferentes países, aprofundando as quedas da véspera. Prevendo o inevitável rebote, o Banco Central de Moscou tomou algumas medidas, banindo por exemplo as vendas de curto prazo de títulos russos por tempo indeterminado. A Bolsa despencou e teve o pregão suspenso por tempo indeterminado.