Os preços dos dois barris de referência para o petróleo no mundo apresentaram uma disparada elevação situando-se acima dos US$ 100, no momento em que as sanções pela invasão à Ucrânia já afetam as exportações russas do produto. Nesta quarta-feira (2) o barril de petróleo tipo Brent ultrapassou os U$S 110 (R$ 567,6, seguindo a cotação atual), maior alta da commoditie desde julho 2014; enquanto o WTI subiu a 106,78 dólares, máxima desde junho de 2014.
O head de renda variável da BP Money, Pedro Queiroz, explica que a disparada dos preços é reflexo das sanções econômicas impostas à Rússia por nações ocidentais após a invasão à Ucrânia. O país é detentor da oitava maior reserva de petróleo no mundo, e deve reduzir a oferta a curto prazo.
“O grande problema é que a retirada do sistema de pagamento bancários não somente dificulta, como inviabiliza os pagamento entre os países”, explica o especialista se referindo às limitações internacionais anunciadas pelas nações lideradas pelo governo dos Estados Unidos e pela União Europeia (UE), ação decorrente da invasão da Ucrânia pela Rússia.
De forma geral, essas medidas visam isolar a Rússia do mercado global, controlar de forma rigorosa a exportação e impactar diretamente o acesso do país à tecnologia de ponta. As medidas provocaram nos últimos dias um tombo na cotação do rublo, a moeda russa; a debandada de investimentos estrangeiros; e uma corrida aos bancos, que já ameaça a liquidez e a solidez do sistema financeiro do país.
Na prática, as sanções têm o objetivo de enfraquecer a economia russa. Assim, o país fica com menos dinheiro para comprar armas e arsenal para continuar a guerra. Desta forma, o petróleo foi um dos principais impactos sofridos pelo país do leste europeu. A Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo e representa 40% das importações anuais de gás natural da União Europeia.
O especialista em renda variável avalia que, embora as previsões sobre a commoditie se apresentem meio turvas, as retaliações e o isolamento impostos à Coreia do Norte, Cuba, Irã ou Venezuela são exemplos notórios do impacto limitado desse tipo de instrumento de conflito ou punição.
“Ao analisar as possíveis sanções, estão previstas para acontecer mais, no entanto a primeira foi bastante significativa e essas sanções já trazem uma perspectiva nebulosa para a Rússia. Isso a longo prazo pesa muito, basta olhar o Irã, que também foi uma nação que também foi tirada do sistema de pagamentos” disse.
Além disso, Queiroz salienta que grandes multinacionais ocidentais de diversos setores fecharam operações locais, suspenderam negociações com companhias russas e anunciaram a retirada de investimentos diretos no país. A Shell, por exemplo, anunciou que encerrará suas operações russas, incluindo sua participação minoritária em uma grande usina de gás natural liquefeito. Em comunicado, a empresa informou que deixará seu principal negócio de GNL, o Sakhalin 2, do qual detém 27,5%. A operação é controlada pela gigante russa de gás Gazprom, dona de metade do negócio.
O que esperar?
“Desde do inicio teremos uma das principais consequências,e mais previsível , é a inflação e a subida da commoditie: sejam trigo, gás natural ou petróleo. Consequentemente acaba piorando o cenário atual global, em que a inflação já está alta nas principais economias ao redor do mundo” afirma Pedro Queiroz.
Em um cenário mais pessimista o profissional destaca: “Podemos chegar a um momento, chamado de estrangulamento de demanda, em que o preço do petróleo é tão alto e que as pessoas param de usar. Vivemos um cenário muito difícil de fazer previsão, a maior proteção é a liquidez, porque não sabemos para onde o Brent vai passar. Sob a perspectiva nacional, não sabemos qual vai ser a capacidade de repasse da Petrobras, por exemplo, se a companhia vier subsidiar deve afetar a empresa, ou se ela tentar fazer o controle de preço deve impulsionar uma escassez de combustível, então vemos vários cenários nebulosos e várias problemáticas variáveis”, completa.