Inaugurado na última terça-feira (16), o Touro de Ouro -feito de metal e revestido de fibra de vidro com pintura dourada- mobiliza atenções e críticas na porta da Bolsa de Valores em São Paulo, onde foi instalado. Já nos primeiros dias, a réplica começa a construir um histórico parecido com o do touro americano, que enfrentou todo tipo de oposição ao longo de 32 anos de existência.
Já estabelecido entre as atrações turísticas mais visitadas de Nova York, a escultura original em bronze é reconhecida no mundo dos negócios como um símbolo de sorte. Diz a lenda que coçar o focinho, agarrar seus chifres ou testículos traz sucesso. No entanto, ela chegou ao centro do mundo capitalista após a crise financeira de 1987.
O touro foi esculpido pelo artista italiano Arturo di Modica, inspirado pela escultura “O Touro e o Urso”, instalada em 1985 em frente à Bolsa de Frankfurt, na Alemanha, para a celebração do aniversário de 400 anos do principal mercado da Europa.
No jargão do mercado, o touro representa os momentos de alta da Bolsa, pois o touro chifra para cima. Ele se contrapõe a outro símbolo financeiro, o urso, animal que tudo derruba com sua patada e representa os momentos de queda das ações.
Di Modica financiou a obra de seu próprio bolso -gastou cerca de US$ 350 mil- e a instalou ilegalmente em frente à Bolsa de Valores de Nova York.
O escultor transportou sua criatura em um caminhão em dezembro de 1989 e a deixou sob uma árvore de Natal. Foi seu presente para os nova-iorquinos, como um símbolo da força e poder do povo americano.
O presente gerou insatisfações. Os executivos da Bolsa rapidamente pagaram para que a estátua de quase 3,5 toneladas fosse levada para um lote no distrito do Queens.
Di Modica discutiu a reinstalação com o Departamento de Parques e o monumento foi colocado ao norte do parque Bowling Green, no cruzamento da Broadway, onde está até hoje.
O autor colocou a estátua à venda em 2004 para tentar recuperar o dinheiro investido na produção e no transporte da peça. O valor mínimo era de US$ 5 milhões (R$ 27,5 milhões) -parte seria doado para caridade- e o comprador não poderia remover a escultura, segundo disseram representantes do autor ao jornal New York Times. A venda não aconteceu.
O artista morreu em 20 de fevereiro deste ano, aos 80 anos, em sua casa em Vittoria, perto de Ragusa, no sul da Sicília. Di Modica lutava contra um câncer há alguns anos.
O touro nova-iorquino também é frequentemente escolhido como alvo dos protestos de críticos do capitalismo. Entre os mais famosos, o movimento Occupy Wall Street (Ocupar Wall Street) completou dez anos na última segunda-feira (15), véspera da instalação do touro na rua 15 de Novembro.
Na ocasião dos protestos em Nova York, o touro era um dos símbolos da manifestação que levou milhares de pessoas às ruas da cidade para criticar a desigualdade e a corrupção.
A primeira reunião da ocupação ocorreu no pequeno parque onde está o monumento, mas, devido à intervenção da polícia, teve de ser transferida para o Zuccotti Park, a cerca de 600 metros.
Em 7 de março de 2017, véspera do Dia Internacional da Mulher, uma estátua de uma menina em pose de desafio foi instalada em frente ao touro.
A escultura, conhecida como Fearless Girl (Menina Destemida), foi idealizada pela escultora americana Kristen Visbal, 58, e encomendada por uma empresa do setor financeiro para chamar a atenção sobre a desigualdade de gênero.
A campanha duraria uma semana, mas a popularidade da Garota Destemida a manteve diante do touro até o final do ano seguinte, quando foi levada para a frente do prédio da Bolsa de Valores de Nova York, na Broad Street, cerca de 500 metros distante do touro.
Na ocasião da instalação da menina, advogados do criador do Touro em Investida pediram a retirada da estátua da garota. Eles alegaram problemas com direitos autorais porque a nova peça subvertia a mensagem do touro, que seria de liberdade, paz e força.
Em 2019, a Prefeitura de Nova York iniciou discussões para retirar o Touro de Wall Street do parque Bowling Green, alegando que o monumento colocava a segurança do público em risco devido ao seu potencial para atrair ataques de terroristas para uma área que concentrava muitos pedestres.
O debate sobre o despejo do touro, que seria realocado para perto do prédio da Bolsa, ganhou fôlego após manifestantes jogarem tinta vermelha nele. Na mesma época, um homem foi preso por bater nos chifres do touro com um objeto de metal.
Após meses de discussões com a comunidade, a prefeitura desistiu de autorizar a remoção da estátua em junho de 2020. A “Charging Bull”, que significa touro em investida ou touro que ataca, permanece ao sul da ilha de Manhattan, no distrito financeiro mais conhecido pelo nome de uma de suas ruas, a Wall Street.