O programa de crédito consignado privado, recém-implementado pelo governo federal, tem potencial para fortalecer o sistema bancário brasileiro ao criar condições mais estáveis para o crédito, segundo avaliação divulgada nesta sexta-feira (11) pela Fitch Ratings.
A agência acredita que a nova modalidade pode contribuir para o fortalecimento dos indicadores financeiros e de risco das instituições financeiras ao promover maior colateralização e reforço das garantias nas carteiras.
A Fitch também destaca que o uso da securitização — processo pelo qual contratos de empréstimo são transformados em títulos e vendidos no mercado — tende a baratear o custo do crédito e ampliar o alcance da inclusão financeira.
O novo formato de empréstimo, que prevê o desconto em folha para trabalhadores do setor privado, ainda conta com uma garantia adicional relevante: o uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como instrumento de respaldo.
De acordo com a agência, “a maior proporção de operações garantidas nas carteiras dos bancos, em comparação ao crédito pessoal sem garantia, deve reduzir índices de perda devido à inadimplência mais baixa e à melhor recuperação dos valores”.
O avanço no perfil de risco pode tornar o sistema mais resiliente, beneficiando mutuários e instituições financeiras.
Apesar do cenário promissor, a Fitch ressalta que ainda existem desafios importantes. A execução das garantias em casos de inadimplência segue cercada de incertezas, e a estrutura tecnológica dos bancos pode ser colocada à prova.
“A agência alerta para riscos operacionais e destaca a necessidade de cautela na gestão do novo produto”, especialmente no que diz respeito à segurança e eficiência dos sistemas de tecnologia da informação.
Nova estrutura do consignado privado amplia acesso e reduz custos
O novo modelo de crédito consignado privado tem se mostrado uma ferramenta poderosa para ampliar o acesso ao crédito formal entre trabalhadores.
Utilizando a Carteira de Trabalho Digital como ferramenta de contratação, o programa facilita o acesso a empréstimos com taxas mais baixas para categorias como trabalhadores urbanos e rurais, empregados domésticos e microempreendedores individuais (MEIs).
Desde sua estreia em 21 de março, a iniciativa já movimentou R$ 4,4 bilhões em 783.064 contratos, de acordo com dados oficiais.
O protagonismo na adoção do programa tem vindo principalmente de bancos menores e fintechs, que enxergam no modelo uma oportunidade de escalar operações por meio da securitização.
Com a inclusão de parte do FGTS como garantia, essas instituições podem reduzir perdas associadas às carteiras de crédito, tornando o desempenho superior ao de empréstimos pessoais sem garantias reais.
Uma mudança estrutural importante trazida pelo programa é o uso do eSocial como meio de integração entre empregadores e instituições financeiras. A plataforma governamental, que unifica o recolhimento de impostos e benefícios, elimina a necessidade de acordos bilaterais entre empresas e bancos, removendo barreiras de entrada e incentivando maior concorrência no mercado.
Ao permitir a entrada de milhões de trabalhadores no sistema bancário, especialmente aqueles tradicionalmente excluídos das linhas de crédito convencionais, o programa representa um avanço relevante em inclusão financeira.
No entanto, também impõe um alerta: será necessário um acompanhamento cuidadoso do nível de endividamento das famílias, para evitar que a facilidade de acesso leve a desequilíbrios financeiros no médio e longo prazo.