CRIs "seguem forte" em retomada da construção civil, diz analista

Analistas também apontam que o programa Casa Verde e Amarela irá impulsionar o setor

Um dos principais setores da economia brasileira, a construção civil tem mostrado recuperação. Esse cenário favorável no setor impulsiona os investimentos em CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), como aponta Caio Araujo, especialista em fundos imobiliários da Empiricus.

“Pensando numa queda da Selic, qualquer margem superior a curva de juros começa a ser mais vantajosa. Mesmo com cenário de queda, deixando claro que não esperamos que caia para 2% aa, o financiamento via CRI continuará sendo bem forte e com um investimento interessante”, destacou Araujo ao BP Money. 

O setor encerrou o primeiro semestre com o maior patamar de atividades desde outubro de 2021, a 51,6 pontos, sondagem da indústria da construção.O nível de 50 pontos divide crescimento de retração. Entre abril e junho, o setor marcou o sétimo trimestre consecutivo de crescimento, algo que não acontecia desde 1996, segundo a Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).

CRIs ou FIIs?

Questionado se prefere os FIIs (fundos imobiliários de investimentos) ou os CRIs, Araujo crê em um cenário mais favorável aos fundos de tijolo. “Pensando em crédito x tijolo (fundos de escritório, shoppings e galpões), caso tenham um cenário otimista, pensando em fortalecimento do crescimento, queda da taxa de juros, vejo um cenário mais favorável para o ganho de capital nos fundos de tijolo, com um potencial de crescimento”, afirmou.

No entanto, deixa claro não descartar os CRIs. “Continuarão pagando bons rendimentos. O fechamento da curva de juros proporciona um ganho de capital para crédito. Em um cenário otimista, sou favorável a tijolo, mas não descarto crédito”, completou. 

Quanto ao melhor momento para investir no mercado imobiliário, se a melhor opção é aguardar o resultado das eleições, marcado para 30 de outubro, Araujo afirma que se posicionar logo tem uma característica importante. 

“Independente do presidente, pensando nos próximos 12 meses, em geração de capital consistente, um cenário construtivo, no momento em que o BC sinalizar uma possível queda dos juros, uma inflação abaixo do esperado, certamente o mercado irá andar”, explicou. 

“Pensando daqui ou até o dia 30 [data do 2º turno das eleições], é muito difícil falar, pois a volatilidade vai continuar relativamente elevada e não acho que tenha grande movimentação de preço para capturar. Ainda assim, pensando nesse contexto, daqui até novembro, me parece interessante montar posição”, completou o especialista.

Programa “Casa Verde e Amarela” impulsiona setor?

Para o especialista, o programa “Casa Verde e Amarela”, independente do resultado das eleições que decidirá o futuro presidente da República, poderá colaborar para esse impulsionamento do setor. 

“O fortalecimento de programas sociais voltados para moradia é essencial para o projeto. Seria um caminho natural de uma eventual eleição do Lula. Porém, acho que o Casa Verde Amarela, mudando o nome ou não, ainda seria um veículo importante pensando em estrutura de governo”, afirmou o especialista em fundos imobiliários da Empiricus. 

Entretanto, o programa recebeu um corte expressivo nas verbas em 2023, o que irá congelar as obras de 140 mil unidades de moradia popular. O valor reservado para construção de casas populares é 95,3% menor do que previsão inicial para 2022. Ainda assim, o analista de ações da AF Invest, Hugo Baeta, acredita que o setor irá surfar um momento “muito positivo”. 

“O setor de construção civil, voltado para o programa Casa Verde e Amarela, vai surfar um momento muito positivo nos próximos anos independente do presidente. O atual [presidente Jair Bolsonaro] também se mostrou favorável ao programa, tanto que fez uma série de estímulos e subsídios para incentivar a construção de novos apartamentos para esse público”, destacou Baeta.

O programa é um conjunto de medidas propostas pelo Governo federal do Brasil durante o Governo Jair Bolsonaro destinadas a facilitar o acesso da população a uma moradia própria, garantindo mais qualidade de vida. “Esses estímulos são pautados basicamente no poder de renda desse público no pagamento da parcela, seja pelo alongamento de prazo da hipoteca, ou pelo subsídio na taxa de juros, tornando-a mais baixa e, com isso, o montante do empréstimo passa a caber mais no bolso dessas pessoas de baixa renda”, salientou Baeta.

O chefe de Estado enviou a proposta de Orçamento de 2023 com uma reserva de apenas R$ 34,2 milhões para o FAR (Fundo de Arrendamento Residencial), que banca a construção de novas casas subsidiadas pelo governo —modalidade voltada para famílias com renda de até R$ 2.400.

Para Araujo, o programa tem favorecido os resultados das empresas do setor. “O Casa Verde e Amarela é um ponto importante, pois tem sido favorável para os resultados das empresas. Aqueles empreendimentos ‘classe A’ continuam com uma demanda favorável, mas o restante que não é Casa Verde Amarela ainda vem sentindo alguns fatores”, analisou Caio.  

Segundo o Banco Central, o cenário brasileiro está favorável ao setor, uma vez que os resultados da pesquisa do FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), mostraram uma recuperação de quatro trimestres com crescimento de 4,8%. 

“Especialmente em 2021, tivemos uma piora de cenário muito por conta dos encarecimentos dos custos de construção, ao lado disso, o encarecimento do financiamento. Nesse ano, com as peças na mesa, e com uma ligeira estabilidade nos preços de construção, que é um fator importantíssimo para a melhora de rendimento dessas empresas, a gente observa um princípio de retomada”, relembra Araujo.