O mercado de fundos sustentáveis no Brasil registra crescimento contínuo e recorde de captação neste ano, impulsionado, em parte, pela realização da COP30 no país. Dados da Anbima mostram que o patrimônio desses fundos chega a R$ 60 bilhões, distribuído em cerca de 250 fundos, e mais de 200 mil investidores já aplicaram recursos em produtos com critérios ESG.
Segundo Carlos Takahashi, CEO da BlackRock e diretor da Anbima, o interesse está ligado tanto à visibilidade do evento quanto à maturidade do mercado:
“A COP30 é um marco sem dúvida nenhuma. Ela cria visibilidade e direciona tanto investidores quanto emissores a se engajarem em soluções de longo prazo.”
Mercado brasileiro se fortalece além do impacto da COP30
O crescimento dos fundos sustentáveis não é apenas conjuntural.
“Quem está nesse tipo de investimento quer realmente estar. Ele tem convicção, não está apenas buscando retorno, mas quer que esse retorno aconteça através de boas práticas”, destaca Takahashi.
O perfil inclui pessoas físicas, investidores institucionais e estrangeiros, especialmente aqueles atraídos por fundos que têm objetivos ambientais, sociais ou de governança claros.
O aumento da captação combina a criação de novos fundos e o crescimento dos já existentes:
“Majoritariamente, os gestores que lançaram produtos recentemente optaram por fundos que têm o objetivo ESG explícito, mas também há crescimento nos fundos que já estão no mercado.”
Os recursos estão direcionados a setores estratégicos, como transição energética, adaptação climática e blended finance. Estruturas que combinam recursos públicos e privados ampliam o impacto desses investimentos, criando um efeito multiplicador:
“Essas estruturas permitem que organismos multilaterais ou bancos de desenvolvimento coloquem recursos de longo prazo, e isso atrai o mercado privado para alavancar ainda mais os investimentos.”
Apesar do impulso, o mercado ainda é considerado nichado e enfrenta desafios de diversificação.
“Tem muita coisa a ser feita, e o próximo grande passo do mercado de capitais vai vir pelos investimentos sustentáveis, pela transição e pela adaptação”, afirma Takahashi.
A educação financeira e o letramento do investidor também são pontos destacados:
“Estamos promovendo jornadas de conhecimento sobre COP30, descarbonização e blended finance, e incluindo ESG em todas as nossas certificações profissionais.”
O crescimento dos fundos sustentáveis pode ainda ganhar reforço regulatório. A COP30 e eventos correlatos estimulam discussões sobre taxonomia brasileira e mercado de carbono, além de mecanismos de incentivo.
“A continuidade dessas iniciativas é essencial para que os investimentos sustentáveis se consolidem como vetor de crescimento estrutural, e não apenas como um boom conjuntural”, ressalta o executivo.
Em síntese, a COP30 trouxe visibilidade e mobilização, mas o desafio agora é transformar o boom de captação em mudança estrutural, consolidando o mercado de fundos sustentáveis no Brasil a longo prazo.