Economia

Copom: analistas destacam preocupação com meta fiscal e exterior

Analistam comentam comunicado do BC sobre redução da Selic

Como já era esperado, a taxa básica de juros no Brasil voltou a cair. Repetindo o que aconteceu nas duas últimas reuniões dos membros do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), a Selic teve um corte de 0,5 p.p e com isso foi para 12,25%.

O comunicado feito pela autoridade monetária nesta nesta quarta-feira (1º) não trouxe surpresas para o mercado, mas alguns pontos chamaram atenção de especialistas ouvidos pelo BP Money.

O principal deles foi o destaque dado ao cumprimento de metas fiscais. O assunto ganhou notoriedade no final da semana passada, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), admitiu que o governo terá dificuldade em zerar o déficit em 2024. A declaração causou mal-estar no mercado e rendeu críticas e dúvidas em torno do planejamento para o próximo ano.

“No comunicado, entre alguns pontos bem importantes que foram destacados, está a questão da necessidade do cumprimento das metas fiscais já estabelecidas pelo próprio governo para a continuação do ciclo de queda de juros. Então a gente vê o Copom trazendo esses pontos, essas necessidades, que essas metas fiscais sejam atingidas para que assim siga-se o mesmo ritmo de redução de juros”, avaliou o economista e sócio da Matriz Capital, Vinicius Moura.

Ele analisa que a simples menção ao assunto no comunicado do BC já merece o alerta para as próximas reuniões. “A ideia que passa é que o governo precisa ficar comprometido com essa questão do déficit zero. Caso os compromissos fiscais não sejam cumpridos da forma como planejado, o BC pode precisar rever a rota. Então, eu acredito que é um primeiro sinal de, caso isso não seja cumprido, possamos ter aí uma reprecificação lá na frente”, pontua.

Exterior

As preocupações causadas pelas incertezas com o cenário exterior ficaram evidentes no comunicado do Banco Central. A autoridade monetária avalia que a situação da economia internacional “exige atenção e cautela por parte de países emergentes”.

“Um dos destaques é a preocupação com relação ao cenário internacional. O BC continua observando com cautela o contexto macroeconômico nos Estados Unidos e o que a gente tem acompanhado de maneira geral no cenário externo como a guerra no Oriente Médio”, frisou o especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, Ricardo Jorge.

Para Vinicius Moura, o BC demonstrou estar atento à tensão geopolítica causada por conta da guerra entre Israel e Hamas. “É importante a gente estar de olho nesses pontos porque qualquer movimento brusco que acontece no Oriente Médio a gente tem um aumento do petróleo de cara. Então a preocupação por essa tensão é importante e eles deixam claro que estão atentos a isso”.

Com os desafios impostos nos cenários interno e externo, o economista-chefe da XP (XPBR21), Caio Megale, projeta uma redução no ritmo de corte de juros no próximo ano.

“Olhando adiante, as taxas de juros mais elevadas nos EUA e as incertezas fiscais domésticas tendem a limitar o espaço para cortes em 2024. Reforçamos nossas projeções de taxa Selic a 11,75% no final de 2023 e 10,00% em 2024”.

Investimentos

O head de renda fixa da Suno Research, Vinicius Romano, indica que o patamar atual da taxa Selic ainda proporciona uma boa relação risco x retorno para os títulos pós-fixados, já que estes praticamente não sofrem com marcação a mercado e são positivamente impactados pelo alto nível da taxa básica de juros.

“No caso dos títulos indexados à inflação, entendemos que os papéis com vencimentos no médio e longo prazo proporcionam um carrego interessante aos investidores, com um juro real próximo de, na média, 5,75% ao ano sem risco de crédito. Para os prefixados, nossa visão é de que existem boas opções com duration um pouco mais curta, mas a classe ainda se mostra mais arriscada que as demais dentro da renda fixa”, disse.

O diretor de gestão na Aware Investments, Gabriel Redivo, dá dicas para o investidor que deseja obter ganhos com o atual cenário econômico.”Entendemos que a melhor alternativa é possuir parte do seu patrimônio alocado no exterior em moeda forte, rentabilizando seus recursos a dólar (+6%). Destacam-se também as oportunidades existentes na curva de juros brasileira, ainda fornecendo aplicações que pagam 1% a.m. na renda fixa por períodos mais longos”, pontuou.