Cautela mantida

Copom: decisão unânime afasta risco político, dizem especialista

Analistas esperam que reação do mercado ao comunicado do BC seja positiva e avaliam o cenário futuro da política monetária

Foto: Freepik
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A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) anunciada nesta quarta-feira (19) não mostrou grandes surpresas ao mercado, ao manter a Selic (taxa básica de juros) em 10,50% ao ano. No entanto, as atenções se voltam ao posicionamento unânime dos membros, que, para os analistas, foi algo positivo.

Os ruídos políticos que corriam nas últimas semanas lançaram sobre o mercado o receio de que as próximas decisões do Copom deixassem de ser técnicas, e sucubissem às interferências políticas.

Marcelo Bolzan, CGA, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, avaliou que a unanimidade elimina qualquer dúvida sobre a credibilidade da política monetária.

“Como esperava, o comunicado veio com tom mais hawkish. Depois do dissenso na última reunião, piora dos balanços de risco do último Copom para cá, maior preocupação com quadro fiscal e expectativas de inflação desancorando, a decisão precisava ser unânime e hawkish.”, afirmou.

“Na minha opinião, o mercado vai receber bem a decisão e o comunicado. Devemos observar queda no dólar e nos juros futuros, enquanto que a bolsa deve abrir em alta refletindo maior otimismo com a política monetária”, projetou Bolzan.

Beto Saadia, economista e diretor de investimentos da Nomos, compartilha da mesma visão sobre a provável reação do mercado, pois o Copom mostrou um rigor com a meta dos diretores, que será mantida pelos anos seguintes.

“Isso vai eliminar não toda, mas uma boa parte desse ruído de mercado em relação a uma provável divisão ideológica entre a diretoria que fica e a diretoria que sai”, disse ele.

Decisão do Copom não indica alta da Selic no futuro

Além das perspectivas políticas, os votos unificados dos membros do Comitê destacam o compromisso do BC (Banco Central) em manter a política econômica contracionista, pelo menos até que se fortaleça o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, avalia Étore Sanchez, Economista-chefe da Ativa Investimentos.

Para ele, a citação do BC de que  “em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 4,0% para 2024 e 3,1% para 2025”, indica uma reafirmação quanto às projeções de que a Selic seguirá em 10,50% até o início de 2025.

“A partir de então, avaliamos que o BC retomará uma postura mais dovish, retomando o ciclo baixista de afrouxamento, conduzindo a Selic até 9,25%.

Para Saadia, o comunicado do BC poderia ter tomado dois caminhos. A sinalização de adiamento do próximo movimento de queda foi um caminho “um pouco mais leniente, menos rigoroso, de sinalizar uma pausa”.

“Nesse caminho, o Banco Central adotou um tom de pausa, um tom mais leniente, ele não deixa muitas portas abertas para a interpretação de que pode haver um movimento de alta no futuro”, completou.

No quadro econômico, uma série de fatores também têm despertado, cada vez mais, a atenção do agentes do mercado financeiro para uma piora nos dados. Um desses fatores foram as enchentes que aconteceram no Rio Grande do Sul em abril.

“Os números falam por si. A mediana das expectativas para a inflação de 2024 saltou 23 bps e a de 2025 subiu mais de 15 bps, ambos em relação à reunião passada”, reiterou Maykon Douglas, economista da Highpar.

Segundo ele, os dados para 2026, que virão ao centro das discussões e foco da política monetária em breve, foi afetada por esse quadro negativo e subiu 10 bps nas últimas semanas. 

“Essa “ampliação da desancoragem” é preocupante e o custo para revertê-la tende a ser mais alto […]  Dados os desdobramentos recentes, o BC se complicaria caso mostrasse um mínimo sinal de divergência”, finalizou Douglas.