Decisão do BC

Copom reforça postura cautelosa frente ao 'tarifaço'

Banco Central vê cenário mais adverso e indica que juros devem permanecer elevados por período prolongado para conter expectativas desancoradas

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 15,00% ao ano, conforme já sinalizado anteriormente.

A decisão unânime foi tomada durante a 272ª reunião do colegiado, realizada nos dias 29 e 30 de julho, e divulgada nesta terça-feira (5) por meio da ata oficial.

Segundo o documento, o cenário inflacionário segue desafiador em diversas dimensões, com destaque para a persistência das expectativas acima da meta, a resiliência da atividade econômica, especialmente no mercado de trabalho, e a elevação das tarifas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil.

“O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho”, aponta a ata.

Tarifas dos EUA elevam risco e reforçam postura cautelosa

O tarifaço imposto pelo governo dos EUA tem peso direto na decisão do BCde manter os juros em níveis elevados.

Embora o impacto inflacionário direto ainda seja incerto, o Copom avaliou que a medida aumenta o risco percebido sobre o Brasil, amplia a volatilidade dos ativos e pode pressionar o câmbio, afetando os preços internos.

O comitê deixou claro que, diante desse quadro, é necessário adotar uma postura “significativamente contracionista por um período bastante prolongado” para garantir a convergência da inflação à meta.

Inflação segue acima da meta, e expectativas continuam desancoradas

As projeções internas do BC indicam inflação de 4,9% em 2025 e 3,6% em 2026 — ambos os percentuais acima do centro da meta de 3%.

Para o primeiro trimestre de 2027, horizonte considerado relevante para a política monetária, a projeção é de 3,4%.

Além disso, o documento mostra que as expectativas de inflação colhidas no Boletim Focus permanecem desancoradas, com estimativas de 5,1% para 2025 e 4,4% para 2026.

A persistência dessas expectativas acima da meta é motivo de preocupação e exige, segundo o comitê, restrição monetária mais intensa e duradoura.

Juros devem continuar elevados; Copom não descarta nova alta

O Copom reforçou que a atual taxa de juros será mantida por tempo prolongado. E deixou a porta aberta para ajustes futuros: se o processo de desinflação for frustrado, o BC não hesitará em retomar o ciclo de alta.

“O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, afirma o texto.