O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) anunciou nesta quarta-feira (31) sua decisão de manter a Selic (taxa básica de juros) em 10,50% ao ano. O destaque foi a resistência da inflação e economistas avaliam possibilidade de elevação da taxa.
O resultado não foi uma surpresa para o mercado, que já apostava em uma postura mais cautelosa do Comitê.
O cenário externo e interno não está favorável para a redução da taxa, visto que, como reforçou o anúncio, os bancos centrais ao redor do mundo estão em “menor sincronia nos ciclos de política monetária”.
Para o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, a menção do Copom a “ficar mais vigilante no futuro, se as variáveis de mercado pioraram, ou as expectativas de inflação pioraram”, indica um aumento de juros.
“Ficar mais vigilante pode ser lido como vai subir juros, acho que não tem outra maneira de ler isso”, avaliou.
“Além disso, os membros passam a mirar o primeiro trimestre de 2026, com uma inflação estimada, no cenário deles, de 3.2%, acima portanto da meta de 3%”, disse Gala.
“O que o Copom está dizendo é: ‘se deixarmos a Selic em 10,5% até o final de 2025, a projeção do modelo para a inflação do 1º trimestre de 2026 é de 3.2’, portanto acima da meta”, afirmou o economista-chefe do Banco Master.
No entanto, na contramão do resultado, a APAS (Associação Paulista de Supermercados) considera que havia espaço para novos cortes na Selic, sem comprometer as bases econômicas e a meta inflacionária.
A inflação deve encerrar dentro da banca de flutuação determinada pelo CMN (Comitê Monetário Nacional), disse Felipe Queiroz, economista-chefe da APAS.
“O crescimento da economia brasileira no período recente tem sido sustentado, principalmente, pelo consumo das famílias, e a manutenção da taxa de juros no atual patamar – uma das maiores taxas reais de juros do mundo – poderá prejudicar tanto o consumo das famílias quanto os investimentos, colocando em xeque o crescimento da economia brasileira”, frisou.
Para a Associação, a economia doméstica tem crescido abaixo do potencial, o que permitiria que o Copom adotasse uma política monetária mais flexível, sem pôr em xeque os fundamentos econômicos e a meta de inflação.
Copom também indica risco fiscal e câmbio como pontos preocupantes
O comunicado do Copom trouxe também outros balanços de risco que podem influenciar suas próximas decisões, como a taxa de câmbio ficar mais depreciada.
“Apesar do balanço de riscos ter ficado assimétrico, acreditamos que o comitê deve seguir mantendo a taxa de juros estável em 10,50% na próxima reunião […] mas essa probabilidade de alta aumentou em relação à comunicação que estava sendo feita pelo Copom antes”, disse Rafael Yamano – Economista da SulAmérica Investimentos.
Para o CFO da Entrepay, Marcio Saito, um dos principais impactos dessa postura será nas taxas de empréstimos, que ficam altas e pouco atrativas.
“Pensando na geração e manutenção de negócios, a maior preocupação é de que isso deixe o financiamento das empresas mais caras, e pensando na cadeia de atendimento, a conta para o consumidor também fica mais alta”
Para Hamelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital, a sessão do Ibovespa de quinta-feira (01) deve ter “grande volatilidade”.
“Tivemos uma decisão de juros nos EUA, no qual também os juros foram mantidos, o que quer dizer que os ativos de riscos ainda não são tão interessantes, na minha visão, já que ainda temos uma taxa de juros alta”, comentou.