"Super Quarta": crise bancária pode pesar para BCs, dizem analistas

Banco Central e Fed irão anunciar na quarta-feira suas decisões a respeito da taxa de juros

A quarta-feira (22) será marcada pelas definições das taxas de juros no Brasil e nos EUA pelo Copom (Comitê de Política Monetária) e pelo Federal Reserve (BC norte-americano), respectivamente. O evento, conhecido como “Super Quarta”, terá um grande protagonista desta vez: a crise bancária. 

Nas últimas semanas, uma crise bancária vem assustando os investidores locais e estrangeiros. Com a quebra de alguns bancos importantes nos EUA, como o SVB (Silicon Valley Bank), o mercado brasileiro passou a tratar com apreensão a próxima reunião do Banco Central para definir o destino da taxa de juros brasileira, a Selic. 

Segundo os analistas consultados pelo BP Money, a crise dos bancos poderá ter um grande peso nas próximas decisões monetárias do BC.

“Me parece claro que a crise bancária terá peso na decisão da política monetária por parte do Copom, e certamente poderemos ver esse efeito não necessariamente via corte de juros nessa reunião de quarta-feira, mas no tom da comunicação da ata já pensando nas próximas reuniões”, disse Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos.

O analista ainda reitera que, se a crise bancária mundial não for resolvida ao longo de 2023, a tendência é que o BC passe a promover cortes na taxa de juros, evitando a ascensão de uma recessão local, que deixaria o mercado desgostoso. 

“Se essa crise persistir nos próximos meses, a tendência é que o BC corte juros, pois ele também tem que se preocupar com a geração de emprego e o nível da atividade econômica. Logo, o corte da Selic poderia ajudar a evitar uma recessão local, e como temos folga na política monetária por termos começado o processo de aperto bem antes dos países desenvolvidos, um corte nos juros não seria mal visto pelo mercado”, acrescentou Alves.

Milton Rabelo, analista da VG Research, também acredita que o Banco Central brasileiro precisará cortar juros nas próximas decisões do Copom caso a crise bancária mundial continue a atormentar os mercados nos próximos meses. O analista ainda relembra que muitas empresas brasileiras têm tido dificuldades em obter crédito e honrar seus pagamentos de juros, cenário que também pode forçar o BC a reduzir a Selic. 

“A depender dos desdobramentos da crise bancária, é possível que as autoridades monetárias, inclusive a do Brasil, sejam obrigadas a cortar juros antes do imaginado. É interessante mencionar que existe no Brasil um problema no mercado de crédito privado em função da elevada taxa Selic”, analisou Rablo.

“As empresas têm tido dificuldade de conseguir crédito e, muitas vezes, não conseguem realizar os pagamentos dos juros. Um hipotético cenário recessivo no exterior e no Brasil podem levar o BC a diminuir os juros antes do previsto, já que, nesse caso, a atividade econômica estaria muito fraca”, completou. 

Crise bancária mundial será tema na reunião do Fed 

Com reunião também marcada para a quarta-feira (22), os dirigentes do Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) irão se encontrar para discutir as próximas ações monetárias do órgão. De acordo com os analistas entrevistados pelo BP Money, a reunião da instituição monetária será fortemente impactada pela recente crise bancária mundial, visto que alguns dos principais bancos do país precisaram ser socorridos.

“Para essa próxima reunião, eu acredito que o Fed irá abortar uma possível elevação da taxa de juros. É sempre bom lembrar que o Fed precisa analisar o controle da inflação e o crescimento econômico, então eu espero que ele não mexa na taxa de juros dos EUA”, disse Licio da Costa Raimundo, professor de economia da Facamp.

Apesar de acreditar que o Federal Reserve será impactado pela crise dos bancos, o especialista afirma que os recentes acontecimentos envolvendo instituições bancárias nos EUA ainda não configuram como uma crise bancária nacional ou internacional, mas sim regional. Por conta disso, Raimundo avalia ser pequena a probabilidade do Fed cortar juros. 

“O que se configura atualmente é uma crise bancária muito localizada em alguns bancos norte-americano, sendo que ela é fruto de uma má gestão e foi viabilizada por uma legislação um pouco permissiva demais. Caso ela se agrave, então aí talvez o Fed aja no sentido de derrubar as taxas de juros, algo que aconteceu em 2008 e na pandemia”, acrescentou o economista. 

Na visão de Lucas Schwarz, analista da VG Research, o Fed será menos incisivo na reunião da próxima quarta, podendo manter o patamar atual dos juros ou elevar a taxa básica de juros em apenas 0,25%. De acordo com o analista, a recente quebra de alguns bancos norte-americanos pode ser vista como um efeito colateral das recentes elevações da taxa de juros pela instituição monetária.

“Ainda que a crise bancária verificada nos EUA até o momento não seja uma crise sistêmica, igual a 2008, eventos como a quebra do SVB, do Signature Bank e os temores com uma possível quebra do First Republic Bank podem ser vistos como ‘efeitos colaterais’ do aperto monetário promovido pelo Fed para controlar a inflação elevada”, afirmou 

“É provável que a quebra do SVB exija um Federal Reserve menos duro com os juros já no próximo encontro, com a manutenção da atual faixa de juros ou um aumento mais leve, de apenas 0,25 ponto percentual. Com 190 bancos correndo risco de insolvência, o custo de uma crise de confiança no sistema parece superar o custo da inflação a curto prazo”, completou Schwarz.