Cotação do ouro avança com guerra

Com a invasão russa à Ucrânia, o ouro vem em uma firme trajetória de valorização

Em momentos de aumento das incertezas nos mercados, é comum que os investidores recorram aos ativos considerados os mais seguros, de modo a se resguardar nos dias de maior volatilidade.

Com a invasão russa à Ucrânia e os potenciais impactos econômicos e geopolíticos ainda desconhecidos em escala global, o ouro, conhecido como uma das principais proteções disponíveis para as carteiras dos agentes econômicos junto com o dólar, vem em uma firme trajetória de valorização.

De 31 de janeiro de 2022, quando estava cotada em torno de US$ 1.800 (R$ 9.072) no mercado internacional, até US$ 1.921 (R$ 9.682) em 18 de março, a commodity metálica acumula uma valorização de aproximadamente 6,2%, em dólar, segundo dados da Bloomberg.

O ouro é especialmente demandado em cenários como o atual, de extrema volatilidade nos ativos de maior risco, diz Paula Sauer, professora de Economia da ESPM e planejadora financeira CFP.

“Se já não bastava a gente ainda estar tendo de conviver com a pandemia, agora temos também a guerra para trazer mais incerteza, o que faz as pessoas buscarem maior segurança”, afirma.

Para aqueles interessados em ter o metal precioso dentro do portfólio de investimento para efeito de proteção e de diversificação, a especialista lembra que existem algumas formas de ter acesso a ele no mercado local.

Uma das maneiras mais tradicionais se dá por meio da compra direta de ouro no mercado, que pode ser feita através dos grandes bancos.

“Por ser um ativo de renda variável, a decisão de investimento deve considerar as condições de mercado, o prazo pretendido de investimento e, sobretudo, a adequação ao perfil de cada investidor”, diz o BB (Banco do Brasil), que oferece aos correntistas a modalidade “Ouro Escritural”, em que é possível investir em ouro em quantidades múltiplas de 25 gramas.

O investimento em ouro pode ser “uma excelente opção para quem espera um retorno de médio a longo prazo e deseja diversificar investimentos, proteger seu patrimônio ou reduzir perdas com volatilidades de mercado”, aponta o Bradesco.

A grama do ouro no mercado local está valendo algo em torno de R$ 310, e não está em níveis ainda mais esticados por conta da recente valorização do real frente ao dólar.

Para se chegar ao valor do ouro negociado no mercado é preciso pegar o preço da onça-troy no mercado internacional e dividir por 31,104 gramas, quantidade padrão de ouro da medida de referência.

Com a cotação de sexta (18) em torno de US$ 1,9 mil, o resultado equivale, portanto, a cerca de US$ 61,76 por grama, com a conversão do câmbio para se chegar ao preço doméstico, com o dólar ao redor de R$ 5,04.

Além dos bancos, também é possível investir no metal precioso diretamente por meio da Bolsa de Valores.

Na B3, existem duas formas principais de acessar o investimento no ouro, diz Louis Gourbin, superintendente de commodities da Bolsa: através dos contratos que acompanham a cotação do ouro (OZ1D, OZD2 e OZ3D), ou via o ETF GOLD11 e o BDR de ETF BIAU39, instrumentos financeiros que representam uma espécie de fundo de gestão passiva que replica a performance do índice global LBMA (London Bullion Market Association Gold Price).

O OZ1D é um contrato negociado na Bolsa que corresponde a uma quantia de 250 gramas de ouro, explica Gourbin. No caso do OZ2D, são 10 gramas, e no OZ3D, 0,225 gramas.

O valor necessário para o investimento nos contratos varia a depender da cotação da grama do ouro do momento, além das tarifas cobradas pela B3 conforme o volume negociado. Assim como nas ações, a tributação é de 15% sobre os ganhos obtidos na venda dos contratos, com isenção para negócios abaixo de R$ 20 mil no mês.

Já no caso do ETF GOLD11, o valor da cota negociada em Bolsa era de R$ 10,28 na sexta-feira (18), com taxa de administração de 0,55% ao ano, enquanto o BDR de ETF BIAU39 era cotado a R$ 45,94, com taxa de 0,25% ao ano. Ambos também são tributados em 15% sobre o ganho de capital, sem isenção independentemente do valor negociado.

“Ter uma exposição ao ouro é importante para efeito de diversificação, mas entendo que comprar ouro é um tipo de seguro. Sendo assim, você compra antes de acontecer o sinistro, na comparação com o seguro de um carro”, diz Bruno Mori, planejador financeiro CFP.

Neste sentido, continua Mori, incluir aplicações vinculadas ao ouro na carteira é mais eficiente antes de acontecer algum problema no mercado, como no caso de uma guerra. Depois que o problema aconteceu, o ativo já está valorizado, afirma o planejador.

“Claro que tudo o que está ruim pode piorar, mas existe o risco de se comprar o ativo na máxima e ficar com ele na carteira amargando prejuízo quando o mercado melhorar”, diz Mori.

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