Nova onda de Covid-19 na China pode afetar Bolsa no Brasil?

Após o fim da política da Covid Zero, surto da doença tem lotado hospitais e pode gerar milhões de mortes

O relaxamento das restrições da Covid-19 na China foi visto por diversos países, inclusive pelo gigante asiático, como uma possibilidade de alívio econômico. O problema é que o país enfrenta uma explosão de infecções pela doença, em larga escala, o que pode ocasionar uma nova onda da pandemia – afetando empresas brasileiras listadas na Bolsa, que dependem do mercado chinês. 

De acordo com Vinicius Rodrigues Vieira, professor de Relações Internacionais da FAAP, a China é hoje a principal importadora de produtos brasileiros e com a possibilidade de ter a economia abalada, mesmo sem a covid zero, o país deve passar a consumir menos do Brasil. 

“Com mais casos de covid-19, ainda que a China não tenha mais a política de lockdowns estritos, o PIB chinês pode cair porque as pessoas estarão focadas em preservar suas vidas. A atividade econômica é impactada. A desaceleração econômica é inevitável e, portanto, isso tende a impactar a demanda por produtos ao redor do mundo”, disse Vieira. 

“O primeiro grande setor que deve sentir esses efeitos deve ser o setor agrícola brasileiro, que vinha puxando a nossa economia. China impacta o mundo como um todo, ainda que tenhamos uma tendência de dissociação entre economias ocidentais e a economia do leste asiático, que é bastante impactada pela China”, complementou o especialista. 

Segundo Vieira, “uma gripe” no cenário internacional sugere “uma pneumonia” no cenário local. “Ainda mais em um período de transição do governo, em que Lula tende a lutar para conquistar a confiança do mercado. Podemos esperar, não apenas uma redução nas exportações, mas também menos investimentos vindo para o Brasil”, disse o professor da FAAP.

De acordo com Julio Hegedus, economista chefe da Mirae Asset, as empresas que mais devem ser impactadas na bolsa de valores brasileira são as exportadoras que tem a China como principal comprador de seus produtos, como Vale, JBS e Marfrig.

“Empresas ligadas ao minério de ferro, soja e exportadoras do setor alimentício devem ser impactadas. Neste caso, a Vale deve ser uma das empresas que mais devem ver o impacto da Covid-19 se alastrando na China. A economia chinesa crescendo menos significa demandando menos. A Vale tem como principal player de mercado a China. Empresas do setor alimentício, como a JBS, também podem ser impactadas negativamente”, disse Hegedus.

“Com uma demanda menor e a economia crescendo menos, porque as pessoas estão com medo da covid, ou estão infectadas, a economia vai rodar menos e isso impacta na roda da economia e, consequentemente, no poder de compra de insumos”, completou o economista chefe da Mirae Asset. 

Risco da China pode alterar número de casos no Brasil

Além dos ricos à Bolsa brasileira, uma nova etapa da pandemia na China também poderia chegar ao Brasil (e outros países) por meio de novas variantes. A explicação foi dada pelo médico pneumologista Gleison Marinho Guimarães ao BP Money.

“É importante que todos os países, inclusive o Brasil, se preparem para uma possível nova onda, principalmente se as variantes forem variantes com potencial de transmissibilidade e maior fuga vacinal”, disse Guimarães.

O especialista explicou que apesar da China ter um alto índice de pessoas vacinadas com as duas primeiras doses (cerca de 90% da população), somente 57% tomou as doses de reforço. Guimarães destacou que as doses de reforço são mais eficazes para redução de infecção e de formas graves da covid.

Com uma alta no número de casos, as chances de novas variantes aparecerem, inclusive em outros países, é maior. Além disso, o fato da China ter implementado a Covid Zero fez com que grande parte da população não contraísse o vírus, o que contribui para uma maior contaminação agora. 

“O que a gente sabe é que a imunidade da vacina com a imunidade pela doença é, representativamente, mais forte do que a imunidade somente pela vacina ou somente pela doença. Então essa imunidade, que chamamos de imunidade forte, também ajudaria na redução da transmissibilidade e na forma grave da doença”, disse .

Segundo Guimarães, as perspectivas não são boas em relação a essa reabertura total da China, já que estima-se que pelo menos mais da metade da população de Pequim seja infectada. 

“Pode até gerar uma nova onda da pandemia de covid-19, principalmente se a população chinesa não atualizar o esquema vacinal. Por enquanto, isso coloca a população do mundo em maior risco”, disse o pneumologista.