Nas últimas semanas a China revelou um novo conjunto de medidas de estímulo econômico, com o objetivo de impulsionar o crescimento do PIB, que despencou para menos de 5% desde a pandemia.
As autoridades estão preocupadas em assegurar que a economia cresça pelo menos 5% até o final de 2024, já que a saúde da segunda maior economia do mundo tem um impacto significativo no panorama global, incluindo o Brasil. Essa iniciativa é vista como crucial, especialmente em um momento em que a economia global enfrenta desafios diversos.
Para o economista e professor da Universidade Tiradentes,Rodrigo Rocha, a crise na China é multifacetada, com a desaceleração econômica sendo impulsionada por uma série de fatores interligados.
Entre eles, destaca-se a crise do setor imobiliário, que tem raízes em anos de construção acelerada, resultando em uma superoferta de imóveis e dificuldades financeiras para construtoras.
“Essa situação levou a um aumento no desemprego, especialmente entre os jovens”, explica Rocha.
Já Vivian Fraga, sócia do Asia Desk da TozziniFreire Advogados, menciona que a China demorou a abrir sua economia após as restrições impostas pela pandemia, o que contribuiu para a retração do consumo familiar e a queda nos preços das exportações.
O alto nível de endividamento das famílias e a crescente taxa de desemprego juvenil também são fatores estruturais que complicam a recuperação econômica, criando um ambiente de incerteza e dificuldade.
Impactos no Brasil
Como o Brasil é o principal parceiro comercial da China, a crise chinesa tem implicações diretas na economia brasileira. A nação asiática absorve mais de 30% das exportações brasileiras e, em 2023, o Brasil exportou cerca de US$ 104,3 bilhões para a China — o maior valor registrado para um único país .
Rocha alerta que a desaceleração no setor imobiliário chinês reduz a demanda por commodities cruciais, como minério de ferro e aço, que o Brasil exporta em grandes quantidades.
“Menor demanda interna na China também impacta negativamente as exportações brasileiras de produtos agrícolas, como soja e carne”, acrescenta Fraga.
A situação pode levar a uma queda nos preços internacionais dessas commodities, afetando a balança comercial do Brasil e gerando uma diminuição na receita de exportações.
Efeitos sobre os preços das commodities
A crise econômica na China também é um fator determinante para a volatilidade dos preços das commodities. Rocha menciona que a crise pode resultar em uma desvalorização das commodities que o Brasil exporta, como soja, minério de ferro, carne bovina, café e açúcar.
Fraga complementa afirmando que a relação comercial entre Brasil e China é crucial, não apenas por gerar receitas significativas de exportação, mas também por fortalecer a balança comercial nacional.
“Uma diminuição na demanda chinesa por essas commodities pode desencadear uma série de efeitos em cadeia, impactando a economia brasileira em vários níveis”, alerta Rocha.
Oportunidades com o pacote de estímulos
Em resposta aos desafios enfrentados, a China anunciou um pacote de estímulos econômicos, que tem como objetivo revitalizar o crescimento e reverter a desaceleração.
Rocha destaca que esse pacote é vital para ajudar a estabilizar o mercado global, beneficiando economias emergentes como a do Brasil.
“Investimentos em infraestrutura e a criação de um ambiente econômico mais favorável podem aumentar a demanda por commodities brasileiras”, afirma.
Fraga acrescenta que o pacote de estímulos, que inclui medidas como a redução de taxas de juros, é um sinal positivo para a economia brasileira.
Ela observa que, no dia em que o governo chinês anunciou o pacote, o Ibovespa reagiu positivamente, refletindo uma expectativa de que a recuperação econômica na China poderia ajudar a estabilizar os preços das commodities no mercado internacional.