Crise hídrica não afeta privatização da Eletrobras, diz presidente da estatal

Limp diz que "é natural" que a crise hídrica não deve ser preponderante em uma avaliação de longo prazo

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O presidente da Eletrobras, Rodrigo Limp, disse nesta quinta (12) acreditar que a crise hídrica provocada pela pior seca da história nas regiões Sudeste e Centro-Oeste não terá efeitos sobre a privatização da companhia, que o governo espera concluir em fevereiro de 2022.

Desde o fim de junho, quando o preço da energia no mercado livre atingiu o teto de R$ 583,88 por MWh (megawatt-hora), o valor das ações da empresa vem caindo, diante dos riscos de perdas para hidrelétricas, que são obrigadas a gerar menos e precisam ir ao mercado para cumprir seus contratos.

Após bater um pico superior a R$ 47 após a aprovação da privatização, as ações da estatal já são negociadas hoje abaixo de R$ 40. Limp diz que “é natural” que a crise hídrica seja considerada na análise do valor da empresa, mas não deve ser preponderante em uma avaliação de longo prazo.

“A gestão da empresa, principalmente desde 2016, traz credibilidade para que todo o mercado enxergue na Eletrobras potenciais de ganhos após a capitalização”, afirmou o executivo, em entrevista para detalhar o balanço do segundo trimestre de 2021, quando a empresa registrou lucro de R$ 2,5 bilhões.

Ao contrário de outras geradoras hidrelétricas do país, a Eletrobras se beneficiou do aumento de preços da energia gerado pela crise hídrica no segundo trimestre de 2020. Limp disse, porém que ainda não é possível projetar os efeitos futuros da crise sobre as finanças da companhia.

Em balanço divulgado na noite desta quarta (11), a Eletrobras disse que o lucro de R$ 2,5 bilhões foi impulsionado pela venda de energia em maiores volumes e a melhores preços e pela revisão tarifária de seus ativos de transmissão de energia.

Segundo Limp, o ganho reflete a estratégia de comercialização da empresa, que separou volumes de energia para negociar no mercado livre. No segundo trimestre, o preço que baliza as operações nesse mercado, conhecido como PLD (preço de liquidação das diferenças), ficou em R$ 229,32 por MWh (megawatt-hora), contra R$ 75,43 no mesmo período do ano anterior.

Desde a última semana de junho, com o agravamento da crise, o PLD se mantém no teto de R$ 583,88 por MWh, cenário que tem forte impacto sobre o mercado, principalmente em empresas que precisam recorrer a contratos de curto prazo para honrar seus compromissos.

Na semana passada, a comercializadora Argon Energia pediu recuperação judicial por não ter condições de comprar energia para seus clientes, gerando temores de uma nova onda de inadimplência neste segmento.

Outras geradoras de energia com forte participação de hidrelétricas em suas carteiras apresentaram resultados piores, já que as limitações à produção de energia para poupar os reservatórios as obrigaram a recorrer ao mercado livre para cumprir contratos.

Limp destacou que a Eletrobras também é afetada por essa necessidade, mas que sua estratégia de venda de energia conseguiu trazer um resultado positivo. A venda de eletricidade a preços mais elevados no mercado de curto prazo e o aumento na importação de energia renderam uma receita adicional de R$ 517 milhões.

A privatização da Eletrobras foi aprovada pelo Congresso em junho, em um processo que recebeu muitas críticas no mercado pela inclusão de jabutis para beneficiar segmentos às custas da tarifa de energia, como a prorrogação de incentivos a fontes renováveis e a contratação de térmicas.

Em encontro com analistas do mercado financeiro nesta quinta, Limp exibiu um cronograma do processo, dizendo que, embora faltem muitas etapas, a expectativa é conseguir fazer a oferta de ações em fevereiro.

Antes disso, é preciso definir os valores que a empresa pagará para renovar suas concessões de hidrelétricas, concluir os estudos sobre o modelo da oferta e obter avais do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e do TCU (Tribunal de Contas da União).

Limp disse que o governo já vem trabalhando antecipadamente com os órgãos de controle para agilizar o processo e que não vê riscos de questionamentos do Cade, já que considera que a Eletrobras não teria poder para controlar preços, apesar de ter quase 30% da capacidade de geração do país.

“É um cronograma desafiador, ainda faltam muitas etapas, mas estamos confiantes”, afirmou o presidente da estatal.

 

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