"Wait and see"

Decisão do Fed não surpreende, dizem especialistas

Decisão pode impactar o Brasil negativamente.

As previsões para o fim de 2025 foram contraditórias para alguns especialistas (Foto: Pixabay/Pexels)
As previsões para o fim de 2025 foram contraditórias para alguns especialistas (Foto: Pixabay/Pexels)

O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, em inglês) divulgou nessa quarta-feira (18) que a taxa de juros base dos EUA será mantida entre 4,25% e 4,50%; especialistas do mercado disseram que cenário já era esperado.

Essa é a quarta decisão de manutenção do comitê. Apesar da manutenção dos juros, as expectativas de crescimento econômico e desemprego foram alteradas. Agora, o esperado é que o PIB cresça 1,4%, redução de 0,3% em comparação com a expectativa anterior. Sobre o desemprego, o esperado é de 4,5%, também um aumento de 0,3%.

“Esse enfraquecimento da atividade econômica abre espaço para um possível corte de 50 pontos-base nos juros até o fim de 2025, mas o Fed segue dependente dos dados” disse o economista Hulisses Dias, mestre em finanças pela universidade de Sorbonne.

O cenário de incertezas do país norte-americano foi ressaltado como um fator importante para essa decisão, não apenas por economistas, mas também pelo presidente do Federal Reserve (FED), Jerome Powell. Durante a coletiva de imprensa, Powell comentou sobre a dificuldade de fazer previsões no atual contexto tarifário dos EUA. “A magnitude dos efeitos tarifários, a sua duração e o tempo que isso levará são altamente incertos”, declarou.

Hulisses Dias também comentou sobre os conflitos no Oriente Médio como fator de instabilidade vislumbrar o futuro, contexto que foi minimizado na fala de Powell. “Um dos fatores que impõem incertezas ao cenário é a escalada das tensões no Oriente Médio, especialmente entre Israel e Irã. Um eventual agravamento do conflito, com envolvimento direto dos Estados Unidos, poderia elevar os preços do petróleo, pressionando a inflação global e limitando a margem de manobra do Fed para flexibilizar sua política monetária” explicou o economista.

Apesar da previsibilidade diante do resultado dos juros especialistas disseram que as projeções e os dois cortes previstos para 2025 deixaram uma mensagem ambígua e que reforça o cenário nebuloso atual. Ao contrário do que foi projetado pelo FED, o economista Maykon Douglas duvida que os dois cortes sejam feitos. “Com o cenário atual, creio que a discussão mais razoável está entre um ou nenhum corte de juros em 2025, em vez de se falar em dois cortes. No entanto, a incerteza em torno disso é bastante elevada.”

E como o Brasil pode ser afetado?

As decisões econômicas dos EUA impactam em todo o mundo. Sobre o impacto no nosso país, o economista e consultor financeiro, André Mirsky, comentou que o Brasil será impactado em três aspectos principais: do câmbio; dos fluxos capitais; e das expectativas de inflação importada.

Sobre a parte de câmbio, o economista disse que a manutenção dos juros elevados prolonga a atratividade dos ativos norte-americanos, o que mantém o dólar forte. “Isso pressiona o real, exigindo que o Banco Central brasileiro mantenha uma postura mais conservadora em relação aos cortes na Selic, para não amplificar a desvalorização cambial e gerar efeitos secundários sobre a inflação”, explicou o economista.

Com o FED mais cauteloso, os fluxos de investimento tendem a continuar preferindo os EUA, o que diminui o número de investimentos estrangeiros no Brasil. Esse cenário, segundo Mirsky, diminui a margem de afrouxamento monetário do Banco Central brasileiro.

E sobre as expectativas de inflação importada, o risco geopolítico e os preços atuais do petróleo reacendem uma ameaça potencial de inflação importada para o Brasil. “Caso o barril do Brent continue subindo, o custo dos combustíveis pode pressionar o IPCA. Isso naturalmente reforça a necessidade de prudência no Copom”, declarou.

O especialista concluiu dizendo que “o ciclo de cortes de juros virá, mas no tempo e ritmo ditados pelos dados econômicos e não pelas expectativas do mercado.” analisou Mirsky. “Para o Brasil, o recado é igualmente objetivo: espaço para cortes na Selic só se abrirá de forma mais segura quando houver confirmação de desaceleração sustentável da inflação nos EUA, uma acomodação dos riscos geopolíticos e maior previsibilidade nos fluxos cambiais.” concluiu a análise.

Nessa mesma quarta-feira, o Copom aumentou a taxa de juros do Brasil para 15%.