O Fed (Federal Reserve, Banco Central dos EUA) anunciou nesta quarta-feira (26) que elevou a taxa básica de juros nos EUA em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 5,25% a 5,50%. Na última reunião, ocorrida em junho, a instituição monetária havia mantido os juros em 5% e 5,25%.
Em comunicado que acompanha a decisão, o órgão monetário escreveu que a inflação norte-americana permanece elevada, deixando em aberto a possibilidade para mais uma alta nos juros. “O Fomc vai continuar avaliando informações adicionais e suas implicações para a política monetária”, afirmou o texto.
De acordo com Marcelo Oliveira, co-fundador da Quantzed, a decisão do Fed já era amplamente esperada pelo mercado.
“A decisão veio de acordo com o que se esperava. O Fed continuou com o mesmo discurso das últimas reuniões de que o mercado de trabalho continua forte, números em geral fortes, e que precisa manter a meta de 2% de inflação. Além disso, o Powell deixou em aberto uma nova rodada de juros na próxima reunião, que será em setembro”, disse Oliveira ao BP Money.
Mercado aguarda nova alta dos juros em setembro
Em entrevista concedida após a decisão sobre os juros, o presidente do Fed, Jerome Powell, evitou criar expectativas para as próximas reuniões do órgão monetário. Segundo o banqueiro, o banco pode dar uma pausa ou não no aperto dos juros em setembro, a depender dos dados da economia que forem divulgados nas próximas semanas.
“É para isso que vamos olhar e decidir. Pode ser uma outra alta em setembro ou manter no atual nível. Se tivermos sinais de que a continuidade do aperto é necessária, então vamos em frente. Do contrário, manteremos como está”, revelou o presidente do Fed.
Na visão do economista Beto Saadia, sócio da Nomos, há hoje um consenso geral entre os investidores que os juros norte-americanos irão subir na próxima reunião, a fim de acabar com o ciclo de alta.
“Mesmo que a alta de 0.25 ponto tenha sido antecipada, o que ocorre no mercado hoje é uma convergência geral de expectativa de que os EUA terão mais um aumento de 0.25 ponto na próxima reunião e a partir daí o ciclo se acaba. Essa convergência não era vista no início do ano, quando investidores se dividiam entre os que acreditavam que a taxa chegaria a 5% e outros mais arrojados que ela chegaria a 6%”, pontuou.
“Caso isso seja feito, o Fed entrará em um momento de fim de ciclo perigoso. Alguns dados, de fato, mostram que a atividade americana está desacelerando, mas para alguns membros do Fed é preciso mais, principalmente para desaquecer o mercado de trabalho. O cenário de quebradeira de bancos, tendo os juros como gatilho parece também que foi ingenuamente esquecido. Quanto mais tempo a taxa do FED fica em níveis restritivos, é preciso olhar com mais cuidado os bancos e as empresas em situações de endividamento alto”, acrescentou Saadia.
Como a decisão do Fed afeta o Brasil?
De acordo com Jefferson Souza, sócio e head de operações da Semeare Investimentos, a nova alta dos juros norte-americanos pode causar uma fuga de capital estrangeiro do País.
“Com a escalada dos juros nos EUA, a tendência é que o capital estrangeiro que está no Brasil vá para os EUA, pois lá a economia é bem mais forte e os títulos se tornam bem mais atrativos e rentáveis. Além do mais, temos que considerar que há uma grande chance do Brasil cortar juros já em agosto, colaborando ainda mais com a saída do investidor gringo”, explicou Souza.
Apesar da fuga de capital estrangeiro do País, o head de operações da Semeare Investimentos ainda reitera que o Brasil, apesar da expectativa de um corte na Selic, está fazendo reformas fiscais que podem atrair novamente investidores de outros países, minimizando os impactos das ações do Fed.
“Vale ressaltar que o Brasil está fazendo sua “lição de casa”, aprovando um novo arcabouço fiscal e reforma tributária. Tudo isso pode criar uma atratividade Brasil, chamando de volta o gringo para a Bolsa”, complementou.