Em julho o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registrou uma alta de 0,38%, superando as previsões do mercado e alinhando-se com o teto da meta de inflação para 2024, que é de 4,50%.
No entanto, paradoxalmente, até julho, a inflação acumulada de 2,87% representa a menor taxa registrada desde 1998, quando o índice foi de apenas 1,65%.
Para Raphael Moses, Professor de Finanças do Coppead/UFRJ, a redução dos preços dos alimentos em torno de 1% é atribuída ao aumento na oferta de diversos produtos que, recentemente, tiveram uma grande influência na alta dos preços.
Entre os principais produtos que contribuíram para essa deflação está a batata inglesa, que havia sido um dos vilões dos últimos meses.
“A deflação de cerca de 1% no grupo dos alimentos reflete uma melhora significativa na oferta de produtos que vinham pressionando os preços, como a batata inglesa”, disse o professor.
Com uma maior oferta desses itens, os preços começaram a cair, aliviando parcialmente a pressão inflacionária no setor alimentar.
Deflação dos alimentos não impede alta geral do IPCA
O especialista em finanças e investimentos Hulisses Dias destaca, ao BP Money, que a deflação nos preços dos alimentos não foi suficiente para conter a alta geral do IPCA devido à estrutura do índice.
“O IPCA é composto por diferentes grupos de produtos e serviços, cada um com peso específico na formação do índice. Mesmo que os preços dos alimentos tenham caído 1%, outros itens com peso importante no orçamento das famílias, como combustíveis, energia elétrica e passagens aéreas, registraram aumentos significativos, compensando essa queda e resultando na alta do índice”explicou.
Impacto das condições climáticas e reversão de desequilíbrios
Os especialistas explicam que o aumento na oferta de alimentos está diretamente ligado a condições climáticas mais favoráveis, que permitiram uma produção agrícola mais abundante.
“A deflação dos alimentos foi impulsionada principalmente pelo aumento na oferta de produtos agrícolas, como tubérculos, raízes e legumes, que resultou em uma significativa queda de preços, especialmente em itens como tomate, cenoura e batata inglesa”, afirmou Dias.
Além disso, o professor Moses destaca que houve uma reversão dos problemas causados por enchentes no Rio Grande do Sul, que anteriormente haviam contribuído para desequilíbrios significativos no fornecimento de alimentos.
“O estado foi o que teve maior variação negativa no grupo dos alimentos”, completou. Com isso os preços conseguiram recuperar a estabilidade na oferta, ajudando a reduzir a pressão sobre os preços.
Pressões inflacionárias concentradas em setores específicos
Dias explica que o Brasil está enfrentando pressões inflacionárias que estão concentradas em setores específicos.
Ele ressalta os preços de combustíveis, passagens aéreas e energia elétrica, que são monitorados e influenciados por fatores externos e políticas internas, têm exercido um impacto substancial sobre a inflação.
“Com a sinalização da Petrobras de que não deve voltar a elevar o preço dos combustíveis e sem a cobrança extra na conta de luz devido a bandeira verde, a expectativa é que estes itens, que puxaram o IPCA para cima em julho, não tenham o mesmo efeito nos próximos meses”, avaliou.
Os itens têm sido responsáveis por grande parte da alta do IPCA, contrastando com a deflação observada no grupo de alimentos e bebidas.