Mesmo com o terceiro mês consecutivo de deflação, a inflação ainda é elevada no Brasil. O Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) caiu 0,29% em setembro e no acumulado de 12 meses ficou em 7,17%. Segundo especialistas consultados pelo BP Money, a análise pontual é de que esse, muito provavelmente, foi o último mês de deflação. Para eles, apesar do IPCA ter fugido um pouco das projeções do mercado, o efeito sobre os títulos indexados à inflação tende a ser neutro.
De acordo com Alejandro Ortiz, analista da Guide Investimentos, setembro deve ter sido o último mês de deflação do índice headline.
“Ao longo dos últimos três meses, o IPCA foi influenciado pelas medidas tributárias do governo, desoneração de alguns produtos industriais, e, principalmente, de combustíveis. Daqui pra frente, porém, o IPCA deve voltar a registrar variação positiva, principalmente em função de uma permanência da pressão vindoura do setor de serviços, especificamente serviços intensivos em trabalho, que devem continuar pressionados em função do mercado de trabalho que tem registrado um desempenho bastante positivo ao longo deste ano”, disse Ortiz.
“A gente sabe que a inflação de serviços tende a ser mais sensível à condição do mercado de trabalho do que qualquer outra coisa”, completou Ortiz.
Ainda segundo o analista da Guide, as NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional – Série B ou Tesouro IPCA+ com juros semestrais) curtas tendem a se beneficiar positivamente do dado de deflação menor do que o previsto, porque “a surpresa foi positiva”.
“A Anbima tinha -0,32% pro IPCA de setembro e veio -0,29%, e essa surpresa tende a impactar o VNA (Valor Nominal Atualizado) das B curtas, o que impacta positivamente a precificação delas. As B curtas tendem a se beneficiar positivamente, mas em relação as longas é difícil dizer porque não dá pra saber, ao certo, se essa abertura da curva nominal reflete totalmente uma abertura de juro real ou uma abertura de inflação implícita, o que pode ser bom ou ruim a depender do prazo dos títulos B”, disse Ortiz.
Os títulos do Tesouro IPCA+ e das NTN-Bs (Nota do Tesouro Nacional-série B) são parametrizados pelo índice IMA-B, que mede o desempenho da carteira de títulos atrelados ao IPCA.
Para Adriano Ribeiro, economista sênior do Banco ABC Brasil, os principais motivos para essa deflação no IPCA, nos últimos meses, já acabaram e o indicador deve, a partir de agora, registrar leituras positivas nos próximos meses.
De acordo com o economista, o corte do ICMS sobre energia elétrica, combustíveis e planos de telefonia foi um dos grandes responsáveis pela queda do IPCA nos últimos meses.
“Em 12 meses, contudo, a inflação deve continuar recuando, ainda que acima da meta de inflação do Banco Central. O IPCA em 12 meses registrou leitura de 7,17% em setembro e projetamos o indicador em 5,46% e 4,57% ao final de 2022 e 2023, respectivamente”, disse Ribeiro.
O economista do Banco ABC Brasil destacou que para os títulos de investimentos atrelados à inflação, os que são de curto prazo tendem a se beneficiar, como disse, também, Ortiz. “O instrumento volta a ser interessante no curto prazo, uma vez que não projetamos novas leituras negativas. Para o longo prazo, o investimento continua válido como proteção à inflação”, explicou Ribeiro.
Guilherme Silva, assessor de investimentos da DOM, destaca que olhando para o lado dos título pós-fixados, indexado ao CDI, o que pode acontecer, havendo deflação, e com a inflação estabilizada daqui um tempo, é o Banco Central começar a reduzir a Selic para estimular o consumo no País.
“Com essa mudança, os títulos pós-fixados começariam a perder a atratividade. Como a gente conseguiu antecipar esse movimento de inflação bem antes dos mercados e dos BCs globais, conseguimos gerar essa deflação, ainda que pequena perto da proporção que subiu, mas é deflação. A meta da inflação [medida pelo IPCA] do nosso governo é que fique entre 2% e 4%, mas não conseguimos frisar quando isso pode acontecer”, disse Silva.