SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A demanda global por segurança das carteiras de investimentos diante das preocupações com o aumento de contágio pela variante delta do coronavírus, o ambiente de alta da inflação e uma recuperação ainda aquém do esperado, abriram espaço para que ativos considerados de proteção -como dólar e ouro- apresentassem bons retornos em julho.
Enquanto o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, encerrou o mês acumulando uma perda de 3,94%, no primeiro mês negativo desde fevereiro, ouro e dólar foram destaques positivos.
No mês, o ouro spot, de 250 gramas, registrou um retorno de 8,2%, encerrando julho cotado a R$ 304. Já o dólar comercial entregou ganhos de 4,8% no período, terminando o mês em R$ 5,2090.
Ambos os ativos costumam ser procurados por investidores como forma de proteger a carteira de investimentos de possíveis oscilações do mercado. Esse movimento também é conhecido como hedge (proteção).
Apesar de ser uma commodity metálica -e assim estar sujeita a possíveis oscilações como qualquer commodity-, o ouro é considerado uma ferramenta de reserva de valor.
Isso significa que ter um valor reconhecido mundialmente acaba servindo de válvula de escape para os investidores que reconhecem algum risco de mercado e querem preservar seu patrimônio de maneira a ainda ter liquidez.
O mesmo acontece com o dólar que, por ser considerada uma das moedas mais fortes do mundo, acaba atraindo investidores em momentos de instabilidade econômica.
Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais, afirmou em relatório que a última sessão de julho também foi bastante pressionada na venda de ativos de risco, com investidores buscando maior proteção.
“Os últimos dias foram de tensão no ambiente externo e, principalmente, no interno. No exterior, seguem as preocupações com o aumento de contágio pela variável delta e a expectativa que bancos centrais possam acelerar mudanças na política monetária, em função da aceleração da inflação”, escreveu.
“Por aqui, além de absorvermos esses efeitos, ainda fomos obrigados a conviver com nossas próprias idiossincrasias, notadamente a reforma do Imposto de Renda e o ambiente político desgastado”, completou.
Do lado do Ibovespa, além do lado político tenso e dos indicadores de conjuntura piores do que o previsto, também pesaram as divulgações de resultados do segundo trimestre feito pelas empresas ao longo das duas últimas semanas, que acabou afetando pontualmente a precificação dos ativos e colaborou para uma piora do índice.
“Também pesou bastante sobre as commodities (com destaque para as metálicas) a interferência do governo chinês no segmento privado de tecnologia e educação, assim como na elevação de tarifas de produtos siderúrgicos e exportações de aço. Isso afetou diretamente o preço do minério de ferro e as ações brasileiras do setor”, afirmou Bandeira.
A maior discussão ao redor do mundo sobre a criação das chamadas CBDCs (sigla em inglês para moedas digitais dos bancos centrais), também trouxe um novo foco para as criptomoedas.
No mês, segundo dados do site CoinMarketCap, o bitcoin valorizou 11,9%, para cerca de US$ 38,8 mil (aproximadamente R$ 198,9 mil).