SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar bateu a máxima de R$ 5,6910 às 15h19 desta quinta-feira (21), uma alta de 2,31% em relação ao fechamento da véspera. O mercado de câmbio reflete os temores do risco fiscal após o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, nesta quarta-feira (20), falar em licença para gastar fora do teto, regra que limita o crescimento das despesas públicas.
A Bolsa de Valores brasileira caía 4,57%, renovando a mínima do dia para 105.713 pontos. Os juros futuros também aumentavam os prêmios, com o DI para janeiro de 2025 em alta de quase 80 pontos-base, a 11,68% ao ano.
O ministro afirmou ainda que o governo quer ser popular, não populista, e que a decisão de furar o teto é política.
Investidores já estavam preocupados com a saúde das contas públicas brasileiras desde que o governo sinalizou a intenção de romper o teto para garantir um novo Bolsa Família de R$ 400. Alguns analistas já projetavam que o dólar passaria a testar a barreira dos R$ 6 diante desse cenário.
O valor de R$ 400, acima dos R$ 300 estimados anteriormente, é uma exigência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), preocupado com a popularidade às vésperas da campanha eleitoral. A adesão do próprio Guedes à proposta de furar o teto de gastos, no entanto, piorou o cenário na avaliação dos investidores.
Pela manhã, ativos brasileiros cotados no exterior também registraram queda devido à fala de Guedes na véspera.
Contratos de real transacionados na CME (Bolsa Mercantil de Chicago) caíam 1,4%, com US$ 1 valendo R$ 5,63. Em Paris, um ETF (Exchange Traded Fund, também conhecido como índice de fundo) que acompanha o Ibovespa, principal indicado da Bolsa brasileira, perdia 3,4%, maior queda desde o início de setembro e indo em direção ao menor patamar desde março passado.
O ministro afirmou que a discussão sobre o Auxílio Brasil envolve duas possibilidades no momento: revisar os índices de correção que impactam o teto de gastos ou pedir uma licença para fazer um gasto temporário até o fim de 2022.
Na terça-feira (19), quando a determinação do presidente para o aumento de gastos veio à tona, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa, caiu 3,28%, a 110.672 pontos, chegando a recuar 3,91% durante a tarde, quando atingiu a mínima de 109.947 pontos.
Para analistas, Guedes jogou a toalha ao abrir espaço para a ala política do governo decidir sobre o aumento de gastos, deixando de ser a última barreira para a implosão do alicerce fiscal do país.
A disparada do dólar e dos juros futuros, além do aumento do risco-país, são as consequências imediatas da percepção do mercado sobre o desequilíbrio das contas públicas, levando o país a um conhecido ciclo que combina inflação e baixo crescimento, segundo Rodrigo Marcatti, especialista da Veedha Investimento.
“Os juros futuros estão explodindo a patamares inimagináveis há dois meses”, diz Marcatti. “A situação de perda do alicerce fiscal pode gerar mais inflação, que gera mais alta nos juros, e a gente entra naquele ciclo conhecido de Brasil”, afirma.
O aumento dos gastos do governo obrigará o Banco Central a continuar acelerando a alta da taxa básica de juros (Selic) até as eleições em outubro de 2022, avalia Paulo Duarte, economista-chefe da Valor Investimentos. “Até pela queda da popularidade do presidente Jair Bolsonaro, a tendência é isso se intensificar com a aproximação das eleições”, diz.
A percepção do mercado sobre o risco de inadimplência do país, medido pela valorização dos contratos de CDS (Credit Default Swap) com prazo de vencimento de cinco anos, avançava 5,75%, a 225,56 pontos, o patamar mais alto desde março.
O exterior ajudava pouco nesta quinta, um dia de queda das bolsas de valores e de moedas emergentes, em meio a renovados temores relacionados ao mercado imobiliário chinês. Nos Estados Unidos, os índices Dow Jones e S&P caíam 0,21% e 0,01%, respectivamente. O Nasdaq subia 0,33%.