
Na última quinta-feira (16), o mercado financeiro foi agitado pela alta do dólar frente ao real, logo após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a taxa básica de juros em 1 ponto percentual.
Esse movimento foi o terceiro consecutivo, reforçando o cenário de valorização da moeda norte-americana no mercado internacional.
Além disso, Após sete dias consecutivos de queda, a moeda brasileira voltou a sentir o impacto da valorização do dólar no exterior. O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, também deu sinais de que não tem pressa em reduzir as taxas de juros, o que ajudou a impulsionar ainda mais o dólar.
Para onde o dólar está indo?
De acordo com a análise de Angelo Belitardo, gestor da Hike Capital, o dólar ainda tem espaço para se valorizar no médio e curto prazo. Isso porque, como os EUA são um parceiro comercial significativo para o Brasil, isso gera um impacto direto no fluxo de commodities e, consequentemente, na entrada de moeda estrangeira.
“Se a China aumentar seu nível de consumo, isso pode valorizar as commodities e impulsionar a entrada de divisas no Brasil, favorecendo o real”, afirma Belitardo.
Além disso, as políticas monetárias dos Estados Unidos têm grande peso. A taxa de juros americana e os sinais de uma possível recessão são variáveis que afetam diretamente o valor do dólar.
“Um cenário de recessão nos EUA, aliado à queda das taxas de juros, pode favorecer o real frente ao dólar”, observa o especialista.
O impacto das tarifas comerciais e a situação política no Brasil
Belitardo também aponta que as tarifas comerciais impostas durante a administração de Donald Trump pressionam a economia global e afetam o dólar. “Essas tarifas podem resultar em uma desaceleração no consumo, prejudicando a força do dólar”, explica.
Em relação ao Brasil, o crescente déficit fiscal é outro fator a ser monitorado. Caso o déficit aumente, o país pode enfrentar uma saída de recursos estrangeiros e uma pressão sobre o real.
“Se o déficit aumentar, isso pode gerar maior necessidade de financiamento externo e afetar negativamente o valor do real frente ao dólar”, afirma Belitardo.
Quando questionado sobre as previsões cambiais de longo prazo, Belitardo compartilhou sua visão sobre o real, considerando um cenário de incertezas políticas e econômicas.
“Embora existam diversos fatores que podem distorcer as previsões, nosso viés é otimista. Acreditamos que o dólar encerrará 2025 em torno de R$5,80”, comenta o gestor, ressaltando a dificuldade em fazer previsões precisas em um cenário tão instável.
Estratégias de investimento para se proteger
Em tempos de alta volatilidade, a diversificação é essencial. Para investidores mais agressivos, Belitardo sugere a exposição a ações de grandes instituições financeiras americanas como JP Morgan, Morgan Stanley e Berkshire Hathaway.
“Essas empresas têm uma sólida posição e são menos afetadas por mudanças nas taxas de juros e inflação”, recomenda.
Já para investidores mais conservadores, os fundos de Money Market, como os geridos pelo JP Morgan e PIMCO, são uma boa opção, oferecendo rendimentos em torno de 5% ao ano em dólar.
Além disso, Belitardo sugere a exposição a produtos de renda fixa no Brasil, como os FIC FIDCs, especialmente aqueles geridos por instituições como More e CVPAR, que oferecem baixo risco de crédito.
Inflação e câmbio: desafios para os próximos anos
O cenário de inflação no Brasil é outra questão relevante. Belitardo prevê que a inflação em 2025 e 2026 ainda ficará acima da meta, devido ao aumento dos gastos públicos e ao cenário eleitoral de 2026.
“O ano eleitoral tende a trazer políticas mais populistas, o que pode postergar reformas estruturais e manter a pressão inflacionária”, alerta. Isso, por sua vez, pode resultar em oscilações no câmbio, afetando ainda mais o valor do real em relação ao dólar.
Para investidores brasileiros, Belitardo destaca a oportunidade de valorização do real após a superação do risco de recessão nos Estados Unidos.
“A inflação causada pelas tarifas é temporária. Acredito que, em um cenário de recuperação, o real pode se valorizar bastante”, comenta.
Contudo, o risco de uma recessão americana e a queda nos treasuries americanos também são fatores que podem impactar negativamente a cotação do dólar. “Uma eventual troca de governo no Brasil também pode gerar volatilidade, mas pode resultar em uma valorização do real a longo prazo”, conclui.