Os investidores presenciaram, na quinta-feira (2), um movimento que não se via há quase oito meses: o dólar comercial cair e ficar abaixo do patamar de R$ 5. Naquele momento, a mínima atingiu atingiu R$ 4,94. Contudo, ao longo do dia, a divisa foi se recuperando, voltou para a casa dos R$ 5 por volta das 15h (horário de Brasília), fechando a R$ 5,04.
Mas essa queda foi uma sinalização de que a moeda norte-americana pode realmente iniciar um processo de queda neste ano ou foi apenas uma exceção e a mesma deve se manter acima do patamar de R$ 5? Para Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, esse movimento pode sim se repetir, mas não é o que o cenário-base aponta atualmente.
“Como os economistas falam: “qualquer previsão sobre o dólar foi feita para dar ‘errado””, pois muitas variáveis impactam o desempenho do câmbio, e muitas delas não estão no controle do investidor, e do mercado como um todo. De toda forma pelos últimos acontecimentos, da manutenção da Selic no patamar atual de 13,75%, alguma luz sobre a política econômica, e o mercado brasileiro descontado, ajudaram o dólar a atingir o patamar abaixo dos R$ 5,00, o que sim pode voltar a se repetir, mas não é o cenário-base do mercado, que projeta o mesmo na faixa de R$ 5,27 ao longo do ano”, explicou Alves ao BP Money.
Para Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, aquele movimento de queda foi mundial, e que o Brasil segue distante dos seus pares em relação ao dólar.
“O dólar no Brasil ainda está muito acima do que deveria estar em relação aos pares do País com o mundo, principalmente México e Chile. Ele caiu, mas acabou voltando especificamente pelo discurso do Lula criticando a autonomia do BC, a meta de inflação, entre outras coisas, o que acabou deixando o mercado inseguro, fazendo com que o dólar subisse”, avaliou Cohen.
A última vês que a moeda dos Estados Unidos fechou o dia abaixo de R$ 5 foi em 10 de junho de 2022, há quase 8 meses. Em 1 ano, o patamar mais baixo foi em 4 de abril do ano passado, quando atingiu R$ 4,61.
Há espaço para a queda do dólar no Brasil?
Exatamente uma semana após a queda, o dólar operam em alta nesta quinta (9), apesar do movimento internacional de alívio da moeda e com a redução de pressão nas relações entre o governo brasileiro e o Banco Central.
Às 14h34, a moeda norte-americana tinha alta de 0,77% a R$ 5,2403. Na máxima do dia até o momento, chegou a R$ 5,2773. Questionado se há espaço para o dólar comercial cair no País, Cohen acredita que sim.
“Um estudo feito no início do ano mostrou que, se o dólar do Brasil acompanhasse o dólar no México, ele custaria hoje R$ 4,90, enquanto que se acompanhasse o dólar no Chile, custaria R$ 4,60, então há espaço para cair”, salientou.
Já Alves não se mostra tão otimista com o cenário atual, mas pondera que alguma mudança “muito favorável” de contexto econômico e político poderia contribuir para a queda.
“Segundo a previsão média dos analistas de mercado, o dólar ‘justo’ ou ‘ideal’ com base nos dados de hoje giraria em torno de R$ 5,27, não que ele não possa ser ajustado, e até pela cotação de uma semana após ter ficado abaixo dos R$ 5,00 já estar mais próxima do apontado pelos especialistas, de modo geral faremos na maior parte do tempo esse retorno para a média”, avaliou Alves.
Esse movimento favorável pode partir do atual governo. Para isso, os analistas apontam que o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, podem contribuir dando mais clareza sobre a política econômica, a qual deve focar em crescimento, geração de emprego, melhores condições para iniciativa de trabalho e investimento para a iniciativa privada, tudo o que o investidor e o empresário buscam: previsibilidade e segurança.
“Quanto mais o governo conseguir propiciar isso, melhor será o cenário para o câmbio, logo, o contrário também é verdade, pois caso a gestão atual vá contra isso, a tendência é que haja uma grande saída de capital, em razão do ambiente mais de negócios mais hostil, e um prêmio de risco que pode não se justificar na renda fixa por conta de uma eventual piora nas contas públicas devido a expansão de gastos do governo”, destacou Alves.
“O governo pode contribuir com alguns fatores. Primeiro, não soltando ideias que fujam do normal e da estabilidade. Segundo, criando estratégias em relação a responsabilidade fiscal, ao arcabouço fiscal que eles ainda não criaram, para que o mercado entenda que os juros podem começar a cair em algum momento e, com isso, o dólar também possa cair em algum momento”, complementou Cohen.
É momento de comprar dólar independente do cenário atual
O chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos também pondera que, independentemente da conjuntura atual, pensando no desempenho estrutural das economias, e da evolução do dólar no tempo, é “sempre” momento para comprar dólar, pois ele deve se valorizar ao longo do tempo, e ser uma opção de ativo de segurança.
“Claro que podemos discutir o “preço”, se está barato ou caro hoje. A melhor forma de fugir desse dilema e tentar fazer uma compra mais eficiente é comprando de forma ‘parcelada’ a fim de fazer um bom preço-médio no tempo, e não tentar acertar o time ideal, pois certamente o mercado pode provar que o investidor estava ‘errado’ ao comprar de uma única vez, nesse caso, ter flexibilidade no portfólio é a melhor opção, em especial quando o tema é dólar”, afirmou Alves.
Cohen também destaca a importância de sempre ter dólar, independente se a moeda norte-americana irá cair ou não.
“O dólar é o porto seguro dos investidores, a moeda que mais se valoriza no mundo e sempre se valorizou nos últimos tempos. Ativos dolarizados é sempre bom se ter na carteira para poder se proteger em momentos de adversidade”, finalizou o analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos.