SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa de Valores brasileira subia 0,01%, a 107.749 pontos, às 15h45 desta sexta-feira (22), tocando a pontuação máxima do dia e oscilando no azul pela primeira vez neste pregão. Ao mesmo tempo, o dólar recuava 0,38%, chegando à cotação mínima de R$ 5,6450.
A reação do mercado ocorreu durante entrevista coletiva do ministro Paulo Guedes (Economia) que, ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), garantiu que permanecerá no cargo e que não “irá rever a arquitetura fiscal brasileira”.
A Bolsa apresentava forte queda até o início da tarde desta sexta-feira (22), atingindo a mínima de 102.853 pontos às 12h25, uma baixa de 4,53%. O dólar tinha alcançado a máxima de R$ 5,7550, alta de 1,55% ?o maior valor desde o fechamento de 30 de março (R$ 5,7580).
O mercado vem impondo preços mais altos para investir no país devido ao aumento da percepção de risco após a gestão Bolsonaro cruzar o limite da responsabilidade fiscal ao propor um drible na regra do teto de gastos. A manobra causou uma debandada no time de Guedes nesta quinta-feira (21). A crise gerou rumores sobre a saída do ministro.
A disparada do dólar e a forte queda da Bolsa ocorrem desde a última terça-feira (19). Na ocasião, Bolsonaro, preocupado com a popularidade às vésperas da campanha eleitoral, determinou que o novo Bolsa Família, o Auxílio Brasil, seja de R$ 400, acima dos R$ 300 estimados anteriormente.
Para cumprir a determinação do presidente, o governo avaliou que precisaria furar o teto de gastos ?regra que limita o crescimento das despesas públicas. Para driblar a regra, nesta quinta, o governo e seus aliados no Congresso inseriram na PEC (proposta de emenda à Constituição) que adia o pagamento de precatórios uma mudança na correção do teto de gastos que, na prática, expande o limite das despesas federais.
Pelo plano apresentado para mudar a regra fiscal, aprovado nesta quinta pela comissão especial da Câmara que analisa a proposta, a Constituição será alterada para que o teto seja corrigido anualmente pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado em 12 meses de janeiro a dezembro. Atualmente, o período usado como base para o limite anual considera o IPCA acumulado em 12 meses até junho do ano anterior.
Para abrir ainda mais espaço no Orçamento, também serão retirados do teto de gastos do próximo ano recursos destinados ao pagamento de precatórios, que será parcialmente adiado. A PEC cria um limite para despesas com sentenças judiciais dentro do teto.
O conjunto das alterações previstas cria um espaço orçamentário para despesas de R$ 83 bilhões no ano eleitoral de 2022.
Quatro secretários da equipe econômica pediram demissão nesta quinta por discordarem das decisões. Pediram para deixar o governo dois dos principais nomes do núcleo da pasta, o que comanda as contas públicas.
O maior representante da área, abaixo de Guedes, é o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal. Ele e o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt ?subordinado a Funchal?, pediram exoneração dos cargos.
“Há muita incerteza no curto prazo que pode empurrar o dólar para cima ante o real. Por outro lado, os players acham que o real está gravemente desvalorizado, o BC [Banco Central] provavelmente aumentará seu ritmo de alta dos juros e intervenções cambiais ainda são possíveis. Portanto, a estabilidade nesses níveis não parece ser o cenário-base”, disse o Citi em nota.
Os juros futuros mantinham-se sob intensa onda de compra, com as taxas disparando mais 51 pontos-base em alguns vencimentos, aumentando a pressão para o Bacen acelerar o ritmo de aumentos da taxa Selic.
Os índices globais oscilavam em diferentes direções nesta sexta. Nos Estados Unidos, o Dow Jones subia 0,27%, enquanto S&P 500 e Nasdaq recuavam 0,03% e 0,051%, respectivamente. O petróleo Brent, referência mundial, subia 0,50%, a US$ 85,03 (R$ 479,71%).
Nesta quinta, o dólar subiu 1,88%, a R$ 5,6670, a maior cotação desde 14 de abril. A Bolsa, que chegou a cair à mínima de 105.713 pontos, fechou em queda de 2,75%, a 107.735 pontos, a menor pontuação desde 23 de novembro
As empresas listadas na Bolsa de Valores brasileira perderam R$ 284 bilhões em valor de mercado em três dias após o governo revelar a intenção de furar o teto de gastos para aumentar o valor do novo Bolsa Família.
Na última segunda-feira (18), as ações na Bolsa valiam R$ 4,984 trilhões. Ao final do pregão desta quinta, o valor caiu para R$ 4,700 trilhões, segundo dados levantados pela desenvolvedora de sistemas de análise financeira Economatica.
A estatal Petrobras perdeu R$ 24,15 bilhões no período, liderando a lista dos prejuízos, seguida pelas empresas Vale (-R$23,9 bi), Magazine Luiza (-R$ 12,3 bi), Rede D’Or (-R$ 8,1 bi) e Ambev (-R$ 7,55 bi).