Economia

Dólar x Real: entenda os atores no desempenho das moedas

Com a alta da moeda norte-americana frente ao real, há aumento nos valores de produtos, matérias-primas e insumos no Brasil

Dólar e Real
Dólar e moeda brasileira / Foto: Freepik

Ainda que você não tenha planos de fazer uma viagem internacional, adquirir itens importados ou exportar produtos, o sobe-e-desce do dólar (que está mais para ‘sobe’, nos últimos tempos) importa. Isso porque, com a moeda norte-americana em alta frente ao real, há aumento nos valores de produtos, matérias-primas e insumos no Brasil.

No fechamento do último pregão da semana, o dólar comercial subiu 0,61%, cotado a R$ 5,12. Nas projeções para o ano de 2024, o valor em real da moeda cresceu, indo de  R$ 4,90 para R$ 5,00, segundo o banco Itaú.

A valorização do dólar em relação ao real tem sido motivada por um conjunto de fatores, destacam especialistas ouvidos pelo BP Money. No cenário externo, André Colares, CEO da Smart House Investments, chama atenção para o aumento das expectativas em relação aos cortes de juros nos EUA para combater a inflação, o que tem fortalecido a moeda americana.

“A redução nas taxas de juros dos EUA pode levar a um enfraquecimento do dólar globalmente, o que ajudaria a aliviar as pressões sobre o real e, potencialmente, sobre o preço das importações. Por outro lado, a maior liquidez global e o capital buscando retornos em mercados emergentes podem levar a uma valorização do real, o que teria um efeito desinflacionário”, pontua Colares.

Outro importante fator que explica a desvalorização da moeda brasileira é o receio em relação ao setor imobiliário chinês e ao minério de ferro, que apresentou queda significativa – de US$ 140 para US$ 100 por tonelada.

Segundo Jamily Dias, Economista e professora do Curso de Ciências Contábeis da Unijorge, o recuo do minério de ferro impactou nas exportações brasileiras e, consequentemente, na perspectiva do Real.

“Embora haja uma recuperação recente nos preços, isso ainda não é suficiente para sustentar o Real de forma significativa”, completa Dias.

No cenário interno, fatores como incertezas políticas, preocupações fiscais e o diferencial de juros também convergem para a desvalorização do real frente ao dólar. De acordo com Volnei Eyng, CEO da Multiplike, o que vai dar as cartas será a meta fiscal.

“A promessa, este ano, é de zerar o déficit fiscal e o mercado já precificou diminuir 0,7% do PIB em relação ao déficit fiscal, mas o governo tem mostrado que pode ir além desse número, não tendo cuidado com os custos e cada vez mais gastando com reivindicações isoladas. Também precisamos lembrar que, no ano passado, o déficit foi um pouco maior do que o orçado e, para o ano que vem, em que havia uma promessa de superávit de 0,5% do PIB, o governo já tem falado em 0,25%. Toda essa situação faz com que os investidores não acreditem muito no compromisso fiscal e isso desvaloriza o real”, explica o CEO da Multiplike.

O que o futuro reserva?

Estabelecer uma perspectiva para o comportamente futuro dessas moedas, portanto, significa acompanhar de perto um conjunto de indicadores e decisões. Colares destaca as políticas monetários do BC e do Fed (Federal Reserve), bem como o ambiente político e fiscal no Brasil.

Por hora, o mercado reduziu as apostas na valorização do real, diante dos dados fortes de inflação nos EUA. Na manhã da última sexta-feira (12), a B3 (Bolsa de Valores brasileira) informou que os investidores estrangeiros retiram R$ 839,317 milhões no dia 10 de abril. Neste mês, até o momento, houve retirada de R$ 1,824 bilhão. No ano, o dado está negativo em R$ 24,721 bilhões.

Fábio Murad, sócio da Ipê Investimentos, explica que as altas taxas de juros nos EUA tornam o país mais atrativo para investidores, potecialmente levando-os a retirar investimentos de países emergentes – como o Brasil.

O peso no bolso dos brasileiros

Com a insistente desvalorização do real frente ao dólar, vários segmentos e, consequentemente, o bolso dos brasileiros sentirão o impacto. De acordo com Andre Colares, as importações se tornarão mais caras, afetando desde o preço de produtos eletrônicos e bens de consumo até matérias-primas usadas na indústria.

“Isso pode levar a aumentos de preços para os consumidores brasileiros, afetando especialmente itens importados ou dependentes de insumos importados”, reforça o especialista.

Entre itens importados, Jamily chama atenção para produtos como smartphones, videogames e automóveis, que têm os preços associados ao aumento ou queda do dólar.

“Mesmo as montadoras estabelecidas no Brasil podem enfrentar custos mais altos devido à importação de equipamentos, como aço, necessários para a produção”, explica a economista.

No segmento de exportação, Jamily pontua que commodities como soja, carne e petróleo, que também são consumidos internamente, podem subir de preço caso os produtores decidam exportar mais – o que reduziria a oferta interna e faria os preços irem lá para cima.

Ademais, os custos de viagens internacionais e o preço de combustíveis, que são influenciados pelos preços internacionais do petróleo cotados em dólar, também podem subir.

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