
Uma parceria entre o Itaú Unibanco e a FGV (Fundação Getúlio Vargas) resultou no estudo “Benefícios da Transição para uma Economia de Baixo Carbono”, que evidencia como o país pode converter os desafios climáticos em vetores de desenvolvimento econômico, inovação tecnológica e criação de postos de trabalho.
A pesquisa, desenvolvida por especialistas da FGV, revela que o fortalecimento das fontes de energia renováveis pode atrair R$295 bilhões em investimentos e produzir um impacto positivo entre R$337 bilhões e R$465 bilhões no PIB até 2035.
O período também pode registrar a abertura de 1,2 milhão a 1,9 milhão de novas vagas de emprego, números que representam 4% do PIB anual e 4,1% do total de empregos formais registrados em 2024. A análise indica que para cada R$1 aplicado em energia renovável, o retorno econômico pode alcançar R$1,57.
O levantamento identifica os setores de energia e agropecuária como os de maior potencial de ganhos. No segmento de renováveis, cada US$1 milhão investido tem capacidade de criar até 25 postos de trabalho diretos e indiretos, beneficiando fornecedores locais e economias regionais.
No campo agrícola, a implementação de soluções tecnológicas adaptativas, incluindo variedades de sementes mais resistentes e expansão de métodos de agricultura de precisão, pode prevenir perdas econômicas de até R$61 bilhões anuais nas principais culturas nacionais.
“O estudo reforça que a transição para uma economia de baixo carbono pode transformar desafios ambientais em oportunidades concretas de inovação, crescimento econômico e geração de empregos para o país.
No Itaú, assumimos o compromisso de sermos o banco da transição econômica, ajudando o Brasil a liderar o desenvolvimento de uma economia mais verde, inclusiva e resiliente”, afirma Luciana Nicola, diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco.
Brasil em posição estratégica
O estudo posiciona o Brasil entre as economias globais mais favorecidas para liderar a transição rumo ao baixo carbono. O país conta com 88% de sua matriz elétrica baseada em fontes renováveis (hidrelétrica, eólica, solar e biomassa) e possui sólida base agroambiental.
Essas características estruturais possibilitam a ampliação da autonomia energética nacional, a mitigação de riscos climáticos e o fortalecimento de setores com alto potencial competitivo, incluindo energia, transporte, agropecuária, siderurgia e construção civil.
Segundo a FGV, o processo de descarbonização pode elevar a segurança energética do país, diminuir custos operacionais das empresas, facilitar o acesso a capitais sustentáveis e promover a geração de empregos qualificados.
A pesquisa enfatiza ainda que a transição energética e a gestão sustentável do solo funcionam como pilares complementares da transformação econômica, capazes de impulsionar a bioeconomia e o desenvolvimento regional, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste.
“Ao reunir dados detalhados, análises empíricas e simulações econômicas, o estudo demonstra que a agenda climática de mitigação e adaptação deve ser encarada como um caminho estratégico para impulsionar a prosperidade do Brasil, gerando benefícios concretos para a sociedade e para o desenvolvimento sustentável do país”, destaca Daniel da Mata, coordenador do estudo e professor da FGV.
A ampliação de parques solares e eólicos no país, particularmente em estados do Nordeste, gera eletricidade limpa com custos competitivos. Esse movimento reduz despesas operacionais, fortalece a segurança energética e cria empregos qualificados regionalmente.
No setor agrícola, a adoção de sistemas integrados como a ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) que combina atividades agrícolas, pecuária e silvicultura em rotação ou consórcio, eleva a produtividade, captura carbono no solo e na biomassa, diminui emissões e aumenta a resiliência produtiva.
Outro exemplo vem do setor cimenteiro brasileiro, que já utiliza substitutos ao clínquer para reduzir as emissões de CO2 na produção, o que valoriza os resíduos industriais e reduz custos regulatórios.
“Nosso papel é viabilizar financeiramente a transição, conectando o setor produtivo à nova economia de baixo carbono. Queremos catalisar o desenvolvimento de soluções que unam crescimento econômico, inovação e sustentabilidade”, conclui Luciana Nicola.
Metodologia do estudo
O estudo foi conduzido pela FGV, sob coordenação dos economistas Daniel da Mata e Joelson Sampaio, e baseia-se em uma combinação de análise setorial, modelagem econométrica e projeções de impacto derivadas da metodologia Insumo-Produto, amplamente utilizada para mensurar efeitos multiplicadores de investimento sobre o PIB e o emprego.
Para mensurar os efeitos da mitigação, a FGV analisou o setor de energia renovável, utilizando dados do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2034 e 2035) e estimativas de investimentos em solar, eólica, biomassa e biocombustíveis.
O modelo indicou que cada real investido nesses setores gera entre R$1,14 e R$1,57 de retorno na economia, com alta intensidade de geração de empregos e participação de fornecedores nacionais.
Já os efeitos de adaptação foram avaliados no setor agrícola, a partir de modelagens econométricas de dados em painel que relacionam a produtividade das culturas (como milho, soja, arroz e café) às projeções de temperatura.
A abordagem metodológica permitiu quantificar de forma inédita os ganhos econômicos e sociais da ação climática, comprovando que a transição para uma economia de baixo carbono gera crescimento, reduz vulnerabilidades e amplia a competitividade do país.