Economistas-chefes de gestoras analisam decisão do Copom

Os profissionais destacam que a surpresa veio no tom mais rígido adotado pela autarquia monetária.

Nesta semana, o Brasil assistiu o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), concluir sua reunião mensal de duas sessões, para definir a taxa básica de juros (Selic), no qual foi deliberado um salto de 1,5 ponto percentual, migrando de 7,75% para 9,25% ao ano.

A BP Money entrou em contato com economistas-chefes para repercutirem a decisão em elevar pela sétima vez seguida a taxa básica de juros. Embora o aumento para o novo patamar da taxa já estivesse nas expectativas do mercado, os profissionais destacam que a surpresa veio no tom mais rígido adotado pela autarquia monetária brasileira. A economista-chefe da ARX Investimentos, Elisa Machado, explica que ao definir o aumento de 1,5 ponto percentual, o Copom não considerou o suficiente para o cenário externo desfavorável, o surgimento da ômicron, a mais recente variante do novo coronavírus, a inflação ainda alta no Brasil, além da fraca atividade econômica.

“O Banco Central deu pouca ênfase à desaceleração da atividade, o PIB [Produto Interno Bruto] se encontra abaixo da expectativa, junto com alguns números industriais e de comércio. Eu acho que ao juntar essa preocupação com as expectativas de inflação e esse pouco peso para essa desaceleração da atividade, podemos estar falando de um diagnóstico no qual aponta que muito do que está acontecendo tem a ver com choque de oferta”, disse Elisa Machado.

A avaliação do economista-chefe da Quantitas Capital, Ivo Chermont, se aproxima da economista Machado, ao destacar o tom de “roc” (jargão econômico para definir a rigidez do Banco Central) sobre a decisão do Copom. “Nesse comunicado o Banco Central optou por ficar do lado da inflação, ou seja, cumprir o mandato de maneira muito mais rígida do que a gente imaginava que ele faria”, afirma Ivo Chermont.

De acordo com Chermont, o BC tenta se equilibrar em horizontes que perpassam pelo realismo e pessimismo ao constatar que a instituição não tem expectativa de atingir as previsões iniciais. “Na nossa avaliação o Banco Central já percebeu que não vai conseguir cumprir a meta de 2022 e, portanto, não irá dar um choque de juros para botar a inflação para 2022. Ele [Banco Central] já entendeu que a inflação vai ficar um pouquinho acima da meta, então a meta de 2022, que é de 3,75%, eventualmente vai subir.  Desta forma, acreditamos que irá apresentar uma alta de 1 ponto ou 1,5 acima da meta” disse o economista e completa, “mas o importante é perseguir a desinflação contínua até que 2023 alcance a meta”.

Ambos apostam que o BC irá manter ancorado a projeção da taxa Selic em 100 e 150 basis points (bps) nas reuniões de fevereiro e março. “Eu acho que de todo nesse tom mais “roc” esvazia as apostas de redução de “pace” [ritmo] então a gente continua apostando num pace de 150 bips por reunião com a taxa chegando próxima a 12% e mantendo-se estável ao longo do ano 2022”, prevê Elisa Machado.

Ivo Chermont alerta, no entanto, que as alterações feitas na previsão de bases para 2023 e 2024, que estavam definidas em 3,25% e 3% respectivamente. No entanto, houve a mudança  nas estimativas para 3,5% e 3,10%, adicionando um diferencial de 10 bases.

“Tem importância pela distância no tempo, dado que estamos em dezembro de 2021, o mercado já estar colocando 10 bases para cima da meta para daqui a três anos, dá uma sugestão de que o mercado não está confiando que o Banco Central vai ambicionar desinflacionar a economia que volte para a meta”, alerta Chermont.

Enquanto Machado destaca, por fim, a importância de monitorar índices de curto prazo de inflação, divulgação do IPC-15, IPC e outros índices inflacionários importantes, “pra tentar entender essa dinâmica tanto dos industriais quanto dos preços de serviços, que no limite é o que vai expectativas daqui pra frente” atenta a especialista.

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