Economia

Economistas projetam desaceleração no crescimento econômico em 2024

Dezordi avalia que o “País deve se preparar para enfrentar uma redução no crescimento econômico em 2024”

Com a proximidade de 2024, há a expectativa de que os novos horizontes tragam uma recuperação na performance econômica do país. Apesar do Brasil ter superado as expectativas do mercado com seu crescimento recente, a economia nacional mostrou uma desaceleração evidente nos últimos meses. Este cenário impõe uma responsabilidade significativa para 2024, bem como avaliou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O BP Money reuniu a análise de especialistas para comentar suas projeções e percepções para o próximo ano.

De acordo com Vitor de Andrade, Head de Growth da Portão 3, o Brasil surpreendeu os economistas durante 2023, visto que a previsão para crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) era de 0.5% no início do ano, e agora figura em 2.9%. Ele destaca o arcabouço fiscal e a reforma tributária como um dos fatores políticos importantes para isso, assim como outras reformas estruturais.

No entanto, para 2024 o economista-chefe da TM3 Capital, Lucas Dezordi, vê um cenário desafiador ao apresentar uma projeção pessimista sobre a macroeconomia brasileira. Dezordi avalia que o “País deve se preparar para enfrentar uma redução no crescimento econômico em 2024”. De acordo com sua análise, as projeções indicam uma desaceleração significativa, com uma expectativa de crescimento do PIB em torno de 1,5%, em comparação com os 2,9% estimados para 2023.

“A redução do crescimento do PIB tem influência da elevada taxa de juros reais, que, atualmente, está acima de 7%, ou seja, muito expressiva para que as atividades econômicas possam expandir o seu nível de atividade. 

Andrade completa a avaliação destacando sua projeção do PIB para o próximo ano entre 1.2% e 2%, “apoiada principalmente por um aumento do volume de consumo e de investimentos”.  Ele também avalia que a inflação se apresenta mais controlada, “seguindo o disparo pós-pandemia”. 

Na manhã desta quinta-feira (21), o Banco Central atualizou suas projeções econômicas, elevando a previsão de crescimento para 2023 para 3,0% em seu Relatório Trimestral de Inflação. Ao mesmo tempo, revisou para baixo a expectativa de crescimento do PIB em 2024 para 1,7%, anteriormente estimada em 1,8%.

Projeções sobre a Selic

Na percepção do Head de Growth da Portão 3 os juros devem começar a cair durante os próximos anos após a subida da Selic, taxa básica de júros, para controle da alta da inflação, destacando a projeção de 9.25% em 2024, comparada com 11.75% para este ano.

Lucas Dezord, por sua vez, compartilha dessa mesma ótica e completa:  “Espera-se uma queda na taxa de juros e estabilidade na taxa de câmbio, que hoje está próximo de R$5. Não há muito espaço para cair, mas também não há perspectiva de alta, acima de R$5,20, por exemplo”, diz o especialista. 

No que tange o medidor oficial da inflação,  o economista espera que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2023 fique na casa dos  4,75%.

Já para o próximo ano, a expectativa é de 3,9%, “visto que a projeção é de uma inflação um pouco menor no próximo ano, é importante destacar um equilíbrio macroeconômico e uma perspectiva de queda da taxa de juros”.

Setores impactados pelos juros

De acordo com o economista-chefe da TM3, os setores que serão mais impactados pela política de taxa de juros são o de varejo, de diferentes segmentos, e a construção civil, principalmente pela dificuldade de crédito e financiamento bancário. Em contrapartida, uma das áreas que mais se destaca é o agronegócio, que segue uma forte expansão, inclusive, impulsionando a economia brasileira como um todo.

Vitor Andrade explica que uma taxa de juros mais baixa afeta positivamente o mercado imobiliário, já que as condições para os financiamentos realizados tanto no lado da oferta quanto da demanda ficam mais amigáveis. 

“Também o setor de bens de consumo, já que a taxa mais baixa está interligada com um aumento da demanda agregada dos consumidores; no que diz respeito a investimentos, haveria uma alta nas ações e também nos investimentos de private equity e venture capital, o que beneficia o crescente setor de tecnologia da informação no Brasil”, completa.

O que eseperar do cenário internacional

Ambos especialistas esperam uma uma certa desaceleração no crescimento econômico dos Estados Unidos no próximo ano, apesar dos números positivos apresentados em 2023.

“Se o processo inflacionário começar a diminuir, há expectativa de uma redução marginal na taxa de juros no final do primeiro semestre, possivelmente em 0,25%”, conforme explica Dezordi, reforçando sua previsão de que o crescimento econômico norte-americano seja mais contido em 2024.

“Enquanto isso, o crescimento na Europa deve continuar devagar, e a China está entrando numa fase de ‘novo normal’, com um crescimento menor, mas possivelmente de melhor qualidade, conforme a economia do país amadurece e apresentar redistribuição entre setores”, pontuou Andrade.

Dezordi ainda comenta uma certa preocupação sobre a China, destacando que a crise no setor imobiliário pode piorar em 2024. Como a economia chinesa depende muito de investimentos na área da construção civil, o ritmo de crescimento tende a cair e provavelmente a economia asiática não vai conseguir gerar uma expansão do PIB acima de 5%. “O ambiente econômico na região pode apresentar uma desaceleração significativa, influenciando as decisões e estratégias econômicas globais”, disse.