Economia

El Niño deve derrubar PIB do Agronegócio em 2024

Economistas do setor apontam quebras nas produções de commodities e riscos de inadimplência em ano desafiador para a agricultura

O El Niño se tornou uma preocupação não apenas para os agentes do meio ambiente, mas para os setores da economia. Em comparação com 2023, o PIB do Agronegócio deve sofrer queda este ano puxado pela quebra na produção e plantio de commodities, como soja e milho, em decorrência do fenômeno climático, é o que estimam economistas do setor. 

No levantamento de grãos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) sobre a safra 23/24, a expectativa é uma produção de 306,4 milhões de toneladas, números que representam uma redução de 13,5 milhões de toneladas em relação à safra 22/23. Por conta dos efeitos do El Ninõ, as empresas devem esperar uma mudança em todos os processos de comercialização de seus produtos. 

André Lins, Vice-Presidente de Agronegócio da Alper, explica que o El Niño pode alterar o regime de chuvas, o que resulta em secas ou enchentes em diferentes regiões do País. Culturas sensíveis à disponibilidade de água, como o milho, a soja e o café são os mais afetados. Segundo ele, as empresas podem esperar pela redução de exportação e dos estoques de armazenamento interno.

“Isso pode afetar o desenvolvimento das plantas, a ocorrência de pragas e doenças, e até mesmo a qualidade dos produtos agrícolas. É importante ressaltar que os efeitos do El Niño na produção agrícola podem variar de acordo com a região do Brasil e com o tipo de cultura”, afirmou em entrevista ao BP Money.

Para Alê Delara, sócio diretor da Pine Agronegócios, a região Centro-Oeste é a que mais deve enfrentar os impactos do El Niño e as expectativas para as empresas não são boas. Ele indicou que “só na soja, estimamos uma redução de 13,3% na produtividade da soja e a região, também terá a maior redução na área de plantio do milho segunda safra”.

Delara, diz que os impactos negativos já podem ser vistos no início da colheita de soja e na intenção de plantio de milho. Desse modo, as empresas devem se preparar para lidar com a inadimplência. “Muitos produtores não conseguirão honrar os contratos e já há muitas notícias circulando sobre o crescimento de pedidos de recuperação judicial”, disse ele.

O reflexo do El Niño nas empresas

As commodities geram grande influência sobre a inflação e preços de consumo de alimentos. Para Delara, apesar da redução na oferta de insumos elevar os preços, o cenário para este ano é diferente. “Como a demanda internacional está muito fraca, vemos o cenário oposto, preços em queda, o que está agravando a situação dos produtores rurais e distribuidoras de insumos”, afirmou. 

Bruno Gurgel, economista do Agromoney, também vê uma tendência de preços mais fracos. Contudo, ele acredita que a queda esperada para a produção brasileira não deve impactar fortemente os preços das commodities, que as cotações só devem aumentar em casos de perdas profundas.

Quanto ao risco de inadimplência apontado por Delara, a posição de Gurgel difere. Segundo ele, as empresas de distribuição não devem sofrer grandes impactos com a inadimplência, por causa da diversificação de culturas.

 “Hoje estimamos perdas mais fortes na Soja e no Milho, porém o ciclo atual tem sido bom para a produção de Café e Cana-de-açúcar por exemplo, dificilmente teremos problemas em todas as culturas ao mesmo tempo, justamente por terem diversas características individuais”, avalia Bruno.

Os impactos do El Niño podem ser sentidos também na Bolsa de Valores. Na avaliação de Gurgel, já é possível perceber quedas nas cotações das empresas de capital aberto do setor, seja por especulação do mercado, ou diminuição dos resultados dessas empresas, mas o cenário ainda não chegou a um nível considerado ruim. 

“Será mais um ano bastante desafiador para os gestores, mas não vejo queda de investimentos nas empresas do setor, justamente porque há ainda bastante oportunidade no agronegócio, cujo mercado de capitais tem um papel extremamente importante”, defendeu Gurgel. 

Neutralização de danos

A agricultura é o setor econômico que mais sofre com as mudanças climáticas, fator que não pode ser controlado. Exatamente por isso, os especialistas sugerem diferentes ações que as empresas podem adotar para se proteger e manter sua posição estável no mercado acionário. 

Bruno Gurgel teceu uma crítica à gestão financeira e antecipação dos problemas pelas empresas, de acordo com ele o setor ainda peca nesses quesitos. “As empresas precisam organizar o seu financeiro, trabalhar com orçamento, gerenciamento do fluxo de caixa, trabalhar o máximo possível com capital próprio para o giro do negócio, diminuindo assim seu endividamento e aumentando a estabilidade do negócio no longo prazo”, aconselha Gurgel. 

Enquanto isso, André Lins lista outra sequência de medidas cabíveis, como o monitoramento climático, a diversificação de culturas, o uso eficiente de água e o planejamento financeiro. “É importante que as empresas agrícolas tenham um planejamento financeiro sólido para lidar com os possíveis impactos do El Niño. Isso inclui a reserva de recursos para investimentos em medidas de mitigação e também para lidar com eventuais perdas de produção”, conclui.