Diversificação, baixo custo e liquidez, aliados a uma oferta crescente. Esses quatro fatores combinados têm feito os ETFs (Exchange Traded Funds) caírem nas graças de brasileiros e brasileiras nos últimos tempos.
No fim de 2019, o número de investidores com ETFs em carteira na Bolsa local somava pouco mais de 100 mil, já tendo mais do que dobrado em relação ao ano anterior.
Em dezembro de 2020, com a taxa Selic nas mínimas históricas, já eram quase 250 mil investidores com ETFs no portfólio, que chegaram ao fim de agosto em 472 mil, sendo a maior parte formada por pessoas físicas (467 mil, ou 98,9% do total).
Embora possa soar complicado, o ETF, também conhecido como fundo de índice, tem como objetivo simplificar a vida do investidor. Como o nome já diz, sua principal característica é replicar de maneira fiel o desempenho dos respectivos índices de referência que se propõem a acompanhar.
Por meio dos ETFs, negociados na Bolsa como uma ação, com valores que começam a partir de cerca de R$ 10, é possível se expor a grandes índices de renda variável, como o Ibovespa, o índice de small caps, de dividendos ou de fundos imobiliários.
Índices de mercado que acompanham títulos prefixados e indexados à inflação de renda fixa também podem ser acessados com o instrumento. E há ainda uma variedade de índices de ações globais disponíveis através dos ETFs.
O aumento na base de investidores, impulsionado pelos juros baixos, tem contribuído para a própria evolução da indústria, que vem com uma oferta cada vez maior.
Em 2018, eram 16 ETFs listados, que somavam R$ 12 bilhões de patrimônio. Hoje, já são 55, sendo 48 de renda variável e sete de renda fixa, que reúnem R$ 52 bilhões.
“Mesmo com esse crescimento relevante, percebemos ainda o tamanho da oportunidade que os ETFs têm para gerar eficiência dentre as alocações que os investidores realizam”, afirmou Renato Eid, chefe de estratégias indexadas da Itaú Asset, durante evento sobre o mercado de ETFs no início de setembro.
Como base de comparação, globalmente, os fundos de índice chegaram ao fim do mês passado com US$ 9,2 trilhões (R$ 48,55 trilhões), distribuídos em mais de 8.000 produtos, segundo dados da S&P Dow Jones Índices.
Embora a diferença de tamanho dos mercados indique o longo caminho que ainda temos para ser percorrido, o aumento da oferta já tem trazido benefícios ao cliente final por aqui. Isso porque o ETF, que já tem como maior apelo seu custo baixo, com taxas de administração reduzidas em comparação com a média de mercado, tem ficado ainda mais barato.
Só de ETFs cujo objetivo é replicar o Ibovespa, já são oito. A principal diferença entre eles reside no custo.
Em meio à guerra de preços para tentar capturar a demanda crescente dos investidores, no fim de julho, a XP zerou a taxa de administração do seu ETF de Ibovespa, até que o veículo alcance R$ 1 bilhão -no fim de agosto, somava R$ 350 milhões.
No dia 17 de setembro, foi a vez da BB DTVM, gestora de recursos do BB, anunciar a redução da taxa para 0,02%, de maneira permanente.
“Nosso objetivo é oferecer uma solução de investimento sem condicionantes, que seja eficiente e atrativa para os investidores”, disse Julio Vezzaro, diretor comercial e de produtos da BB DTVM, em nota.
O mais caro do grupo é o ETF de Ibovespa da Caixa, com 0,5% de taxa de administração. Ainda assim, bem abaixo da média dos fundos de gestão ativa, que usualmente cobram 2% de administração, mais 20% de performance sobre o rendimento excedente ao do respectivo índice de referência.
Exposição internacional Além de investir com baixo custo de forma relativamente simples em uma carteira diversificada de ações brasileiras, o aumento na oferta de ETFs que acompanham índices de ações globais tem sido um importante chamariz para atrair novos interessados.
O investidor encontra na Bolsa brasileira ETFs que seguem a variação de índices de ações dos Estados Unidos, como o S&P 500 e o Nasdaq, bem como da Europa e da Ásia. Ao investir nos ETFs globais, há também a exposição à variação do dólar frente ao real.
O IVVB11, ETF da BlackRock que acompanha as 500 maiores empresas com ações negociadas nos Estados Unidos, é atualmente o mais popular do mercado, com 172,6 mil investidores em agosto.
“Estamos vendo a possibilidade de investidores brasileiros acessarem o mercado internacional de uma forma inédita. Na pandemia, o investidor ficou mais atento aos temas que refletem o momento que a gente vive”, afirmou Paulo Sampaio, diretor da S&P Dow Jones Índices.
Dados da FTSE Russell mostram que o mercado acionário brasileiro representa pouco mais de 0,6% de todas as oportunidades na renda variável internacional, sendo que quase 97% dos recursos dos investidores locais estão dentro do país.
“O alto viés doméstico provou ser muito caro para os investidores brasileiros e a evidência é o efeito devastador da desvalorização do real”, afirmou Miguel Chavarria, chefe de América Latina da FTSE Russell.
Em meio ao frenesi em torno das criptomoedas, ETFs que acompanham a oscilação de Bitcoin e companhia começaram a chegar no primeiro semestre do ano, e rapidamente entraram nas carteiras.
Em agosto, o HASH11, primeiro ETF de criptomoedas do país, despontava como um dos mais populares do mercado, com 126,1 mil investidores. Lançado em abril de 2021, o ETF de criptomoedas já dividia a vice-liderança do mercado com o BOVA11, ETF que acompanha o Ibovespa lançado em 2008 pela BlackRock.
“Vimos crescer muito a indústria de criptomoedas, tema que todos estão evoluindo o conhecimento, procurando entender como isso se encaixa no portfólio”, afirmou Arthur Carasso, superintendente de investimentos do Itaú Private Bank.
Em um mercado que ainda deve evoluir, com uma porção de moedas digitais provavelmente ficando pelo meio do caminho, Carasso disse que investir via ETFs tende a ser uma forma mais segura de se expor às criptomoedas.
BDR de ETF Além dos ETFs “tradicionais”, mudanças regulatórias promovidas pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em setembro do ano passado passaram a prever um novo instrumento no mercado local, o BDR (Brazilian Depositary Receipts) de ETF.
Criado originalmente para permitir que o investidor compre na B3 ativos que repliquem a performance de ações de empresas globais, hoje os BDRs também acompanham o desempenho de ETFs negociados nos mercados internacionais.
Embora o veículo de investimento não seja exatamente o mesmo que o ETF, a proposta é -seguir a oscilação de grandes índices globais de ações. A expectativa da B3 é lançar até o fim do ano os primeiros ETFs de renda fixa internacional.
Com pouco menos de 150 investidores no fim de 2020, os BDRs de ETFs chegaram a agosto com 10,5 mil cotistas.
Atualmente existem mais de 80 BDRs de ETFs na B3, que seguem desde benchmarks regionais de ações dos Estados Unidos, Europa, Ásia e América Latina, bem como os chamados ETFs temáticos, que se voltam para oportunidades em commodities, como ouro e prata, e setores de saúde, energia limpa e tecnologia, entre outros.
Na última quinta-feira (23), a Itaú Asset lançou o ETF YDRO11, que tem como proposta seguir um índice com 19 empresas do mercado norte-americano especializadas na produção, armazenamento e transporte de hidrogênio.
Diferentemente dos ETFs, nem todos BDRs de ETFs estão acessíveis para o público geral. Cerca da metade ainda está disponível apenas para investidores considerados qualificados pela legislação de mercado, que são aqueles com mais de R$ 1 milhão em aplicações financeiras.
Em agosto, a B3 lançou o site www.etf.com.vc, em que o investidor encontra as principais informações sobre os ETFs e BDRs de ETFs no mercado.