Economia

IBGE: entenda riscos de um vazamento de dados para o mercado

Divulgação ocorreu uma hora antes do previsto, o que é considerado um erro grave por economistas

O resultado do IPCA-15 de janeiro divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta sexta-feira (26) veio em meio a uma polêmica. A divulgação ocorreu uma hora antes do previsto, o que é considerado um erro grave por economistas. Mas, por quê?

Embora o impacto foi limitado, uma vez que o mercado ainda não estava em operação, o estrago poderia ser grande. Para o jornal “O Globo”, o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, ressaltou que o mercado brasileiro abre às 9h, o que diminui o impacto do vazamento. Caso contrário, com essas informações em mãos, investidores teriam informações privilegiadas para negociar ações, títulos, moedas e commodities.

“Se o mercado estivesse aberto, eu poderia vender os contratos de juros, antecipando uma queda nas taxas, enquanto outros poderiam comprar, esperando que os juros se mantivessem no mesmo patamar. Com o mercado fechado, a pessoa só poderia pensar antes, mas não ganhar dinheiro em cima disso. Mesmo assim, o que aconteceu merece atenção”, explicou o economista.

Imaizumi acrescenta, que a integridade do mercado financeiro depende da igualdade de informações entre todos os participantes, e um erro interno do IBGE pode afetar essa premissa.

Bruno Komura, da Potenza Capital, diz que o vazamento da inflação antes da abertura dos mercados futuros permite com que alguns investidores se posicionem com vantagem em relação a outros:

“Como o mercado futuro abre às 9h, quem viu essa informação vazada teve uma hora para entender aonde o mercado poderia ir e se posicionar. Essa assimetria de informações é algo ruim que não afeta só o Ibovespa, mas também o dólar e os juros futuros”, avaliou Komura.

Ele pondera, no entanto, que se o resultado do IPCA acelerasse, o impacto negativo poderia ter sido pior. “Acredito que esse resultado não teve tanto problema. Se a inflação viesse pior, as pessoas poderiam vender suas ações antes que elas caíssem. Esse erro não deveria ter acontecido, mas não há o que fazer. Não é motivo para a B3 interromper as negociações”.

IPCA-15 tem alta de 0,31% em janeiro, abaixo das estimativas

O IPCA-15 de janeiro de 2024 registrou uma variação de 0,31%, comparado ao aumento de 0,40% em dezembro de 2023, conforme divulgado pelo IBGE. Em janeiro de 2023, o índice apresentou uma variação de 0,55%.

O resultado ficou abaixo das expectativas de analistas consultados pelo Valor Data, que projetavam um aumento de 0,47%, com as estimativas variando entre 0,4% e 0,6%. Em termos de 12 meses, o IPCA-15 até janeiro alcançou 4,47%, em comparação com 4,72% até dezembro de 2023. Esse resultado ficou abaixo da mediana das estimativas do Valor Data, que era de 4,63%, com projeções variando entre 4,57% e 4,77%.

No que se refere às classes de despesa, Alimentação e Bebidas foi responsável pela maior variação (1,53%) e pelo maior impacto (0,32 ponto percentual) no total do IPCA-15. Dentre os subitens, a passagem aérea teve o maior impacto individual, com uma queda de 15,24% no mês e um impacto negativo de 0,16 ponto.

Outros destaques de variação de preços no IPCA-15 de janeiro incluem as quedas nos preços da gasolina (-0,43%) e da energia elétrica (-0,14%).

O IPCA-15 é uma prévia do IPCA, calculado com base em uma cesta de consumo típica das famílias com rendimento entre um e 40 salários-mínimos, abrangendo nove regiões metropolitanas, além de Brasília e do município de Goiânia. A diferença em relação ao IPCA está no período de coleta e na abrangência geográfica.