Economia

Entidades se unem em defesa do parcelado sem juros

A ação vai contar com estratégia de comunicação para angariar assinaturas em defesa do instrumento

Entidades ligadas aos setores de varejo e serviços se uniram e lançaram, nesta terça-feira (2), o movimento chamado “Parcelo Sim”, em defesa do parcelamento de compras no cartão de crédito sem a incidência de juros. A ação vai contar com estratégia de comunicação para angariar assinaturas em defesa do instrumento.

O movimento afirma ter natureza apartidária, mas diz que buscará sensibilizar autoridades dos poderes Executivo e Legislativo para evitar o que qualifica de “vilipêndio” dos grandes bancos aos lojistas e aos clientes, segundo nota enviada à imprensa.

O varejo e o setor de serviços defendem a manutenção do parcelado sem juros no formato atual, sem uma regulação sobre o número máximo de parcelas. Os grandes bancos, por outro lado, defendem que o instrumento precisa ser limitado para que os juros do crédito rotativo, em que entram clientes que não pagam a fatura do cartão, caiam.

O debate entre as duas posições tem acontecido diante da movimentação do governo, do setor financeiro e do BC (Banco Central) para reduzir os juros do rotativo, que ultrapassam os 400% em termos anualizados. O BC chegou a propor uma limitação do parcelado a 12 vezes, vista como insuficiente pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e como anticoncorrencial por fintechs, maquininhas independentes e pelo varejo.

O movimento cita dados da CNC (Confederação Nacional do Comércio) que apontam que 90% dos varejistas adotam o parcelado sem juros, além de pesquisa do Datafolha que diz que 75% dos brasileiros utilizam essa forma de pagamento.

São fundadoras do movimento Associação Brasileira dos Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad); Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel); Associação Brasileira dos Lojistas Satélites de Shoppings (Ablos); Associação Brasileira de Academias (Acad); Associação de Lojistas do Brás (Alobras); Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL); Fecomercio-SP; Parcele na Hora; Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste); Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae); e União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências (Univinco).

Campos Neto diz que juro do rotativo é o problema mais complexo

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou na última sexta-feira (17), que os juros do rotativo do cartão de crédito representam o problema mais complexo que ele enfrentou durante sua gestão na autoridade monetária.

“É o problema que demoramos mais tempo para entender, ver todas as relações no mundo de meios de pagamento e tentar achar uma solução sem criar nenhum tipo de ruptura no consumo, sem prejuízo para consumidores e lojistas. Queremos evitar que essa bola de neve estoure e crie uma ruptura no padrão do uso de cartões”, comentou Campos Neto, durante participação no evento “E Agora, Brasil?”, promovido pelos jornais O Globo e Valor Econômico.

Campos Neto reiterou que houve um expressivo aumento no uso do parcelado sem juros, juntamente com um aumento significativo no número de cartões emitidos e nos limites autorizados.

“Curiosamente, quando você pega as pessoas que têm mais cartões é exatamente onde há maior inadimplência”, destacou o presidente do BC.

Campos Neto ainda destacou que, caso não haja um consenso no mercado, a legislação recém-aprovada automaticamente imporá limites aos juros do rotativo, embora com um impacto reduzido nas taxas atualmente praticadas.

“Falhamos em encontrar um acordo (até agora), mas ainda buscaremos um entendimento. Não quero ser pessimista, estamos trabalhando em uma solução intermediária”, concluiu Campos Neto.