Entre poupança e cripto, geração Z começa a entrar no mundo dos investimentos

Apesar de ser a faixa etária que mais investe em criptomoedas, poupança segue sendo o investimento mais popular

A geração Z, que compreende a faixa etária dos atuais 12 aos 25 anos, tem aparecido de forma tímida no mundo dos investimentos, seguindo os passos dos pais na tradicional poupança ou indo diretamente à volatilidade, na busca por criptoativos

Segundo o Raio-X do Investidor, publicado pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais), entre os tipos de investimentos, o mais utilizado pela geração Z é, disparado, a poupança. Apesar do percentual ser menor do que entre as demais faixas etárias, é surpreendente que tantos jovens ainda recorrem à caderneta de poupança. 

Segundo Adriano Gomes, professor de finanças da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) e consultor da Méthode Consultoria, existem alguns motivos para isso, como a facilidade de investimento e de manejo, rendimento conhecido e a liquidez. 

“Todos esses itens são pensados pelo investidor, que não considera somente a rentabilidade”, disse. “Apesar de todos esses fatores, a poupança ainda se destaca como uma opção de investimento, apesar de nem sempre ser a melhor”, afirmou Gomes.

Maria Julia Bastos, estudante de administração de 21 anos, contou que guardava dinheiro na poupança que seus pais criaram para ela desde que era criança. No entanto, quando entrou na faculdade, passou a ouvir que este não era o meio ideal para se investir e foi atrás de mais informações sobre o assunto. 

Investimentos além da poupança

Gomes afirma que o investimento na poupança é estrutural do Brasil, pois “existe um grande número de pessoas que não possuem acesso à renda, à educação, e à uma série de elementos fundamentais para que possam realizar investimentos com mais segurança”, afirmou.

Bruna Amalcaburio, analista da Top Gain, diz que manter investimentos na poupança indica falta de conhecimento sobre o assunto, uma vez que ela tem ganhos limitados. “Existem produtos que apresentam uma rentabilidade muito melhor e que possuem uma segurança bem parecida com a da poupança”, disse. 

Ela cita o Tesouro Selic como um investimento parecido, mas que rende bem mais, principalmente devido à atual taxa básica de juros. A rentabilidade do Tesouro Selic é o dobro da poupança, e não é difícil investir neste ativo. Existem duas formas de se investir no Tesouro Selic: através de uma instituição intermediária, como um banco ou uma corretora que tenha acesso aos títulos públicos, ou diretamente na plataforma do Tesouro Direto. 

“Não coloque todos os ovos na mesma cesta”

Já Luísa Cerne, estudante de jornalismo de 22 anos, faz parte dos 67% pertencentes à geração Z que não utilizam nenhum tipo de investimento. “Tenho a intenção de investir no futuro, mas não conheço nenhum tipo de investimento. Gostaria de ter algum em que posso deixar o dinheiro por vários anos”, contou.

Bruna Amalcaburio diz que, como a taxa Selic atual se encontra em um patamar alto, uma alternativa seria investir em renda fixa, em alternativas pré-fixadas com vencimento a longo prazo. O investimento em títulos do Tesouro Direto Prefixados, por exemplo, é uma das opções. 

No entanto, ela alerta que o primeiro passo, antes de começar a procurar investimentos a longo prazo, é ter uma reserva de emergência. Isso porque os investimentos a longo prazo devem ser retirados somente na data de vencimento para garantir a totalidade da rentabilidade acordada no momento da compra. “A reserva de emergência serve para resgatar facilmente caso precise de algum dinheiro”, explicou Bruna. 

A estudante Maria Julia, após pesquisar sobre o assunto, passou a investir em renda fixa, ações e fundos imobiliários. Bruna diz que é importante diversificar os tipos de investimentos na carteira. “Ao diversificar, conseguimos nos preparar melhor para diferentes cenários”, contou. “Seja na renda fixa ou na variável, existem inúmeros tipos de investimentos com diferentes tipos de risco”, afirmou a analista.

Como se informar sobre o assunto?

Uma outra questão no tocante aos investimentos é que muitas pessoas não sabem como encontrar informações confiáveis sobre o tema. “Eu já tive vontade de investir, mas não sei nada sobre o assunto e também não sei qual seria uma fonte confiável de informação sobre o tema”, disse Luísa.

De acordo com o Raio-X do Investidor, os meios mais citados pelos entrevistados quando perguntados como se informam sobre produtos na hora de investir foram gerente ou assessor presencialmente, amigos ou parentes e sites de notícias. Influenciadores financeiros também aparecem na lista, sendo que o YouTube lidera na busca por informações sobre investimentos quando o assunto são canais digitais. 

Maria Julia diz que, para se informar sobre os melhores investimentos, ela lê notícias nos principais portais de economia e acompanha contas e casas de investimentos que fazem posts diários com notícias sobre o mercado. Ela também segue influencers nas redes sociais que falam sobre investimentos e mercado. 

No entanto, o professor Adriano Gomes faz um alerta  sobre os influencers financeiros. “Por ser uma geração muito inclinada a não se aprofundar nos estudos e muito influenciada por esses criadores de conteúdo, podem acabar caindo em uma cilada”, disse. 

Trata-se de uma preocupação recorrente entre os órgãos reguladores do mercado. Atualmente, a Anbima, em parceria com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), está procurando fortalecer o acompanhamento destes influencers e estudando criar uma regulamentação para influenciadores digitais especializados em investimentos. 

A relação entre a geração Z e cripto

Nesse contexto, Adriano cita as criptomoedas como um tipo de ativo que tem atraído muitos jovens nos últimos anos. “Existe essa grande onda que se iniciou no ano passado de investimentos em criptomoedas e agora estamos vendo que elas derreteram com o balançar da economia e não servem como ativos de proteção”, afirmou.

Segundo dados da Anbima, os criptoativos aparecem como o segundo tipo de investimento mais utilizado pela geração Z. Ao todo, 5% dos entrevistados dessa faixa etária afirmaram investir em criptomoedas, o maior percentual dentre todas as faixas etárias na pesquisa. Além disso, 4% dos millennials e 1% da geração X afirmaram investir em cripto. Entre os entrevistados com mais de 60 anos, o percentual foi nulo. 

Arthur Belli, estudante de engenharia de 20 anos, é um dos jovens engajados com investimentos em criptoativos. Ele afirma investir somente em cripto, e diz se sentir mais confortável neste mercado. Arthur começou a investir em criptomoedas em 2017, quando ainda estava no ensino médio, e vem acompanhando o mercado cripto desde então. 

Apesar de preferir os criptoativos, ele reconhece que a alta volatilidade deste mercado pode ser desfavorável no longo prazo. “No futuro, gostaria de investir em mercados tradicionais, como ações, renda fixa, entre outros. Entendo que ter algo mais seguro para contrabalancear o risco das criptomoedas é importante”, disse. 

Bruna considera os investimentos em criptomoedas interessantes aos jovens, pois esta faixa etária é a mais disposta a se arriscar no mercado. No entanto, ela reitera que apenas parte da carteira deve ser destinada a esses ativos de alto risco. “Para os jovens que gostam e entendem de criptomoedas, acredito que é uma vantagem ter um percentual na carteira, desde que não seja muito grande”, indicou. 

Seja investidor ou não, tanto Arthur quanto Maria Julia e Luísa consideram importante investir e salvar suas economias. Para Maria Julia, investir é essencial para se ter controle sobre seu dinheiro e ganhar independência financeira. “É importante saber as diferentes formas de fazer o seu dinheiro render e trabalhar para que você consiga atingir um determinado objetivo no futuro”, comentou.

Bruna Amalcaburio conclui dizendo que investir é essencial para todas as pessoas, não só para a geração Z, que esperam ter benefícios no futuro, seja para obter independência financeira, segurança familiar ou viver uma vida com mais riqueza. 

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